As voltas que o mundo dá
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Em sucessivos congressos, o PT vem aprovando moções pró-aborto. Não satisfeito, criou um capítulo para o tema no PNDH-3, rumoroso decreto presidencial que propôs revoluções à Constituição federal e foi integralmente aprovado, por unanimidade, no Congresso do PT realizado em meados de fevereiro deste ano. Os deputados petistas que integram a Frente Parlamentar em Defesa da Vida são constrangidos a bater em retirada. Teria muito mais, mas acho que chega para mostrar que o tema não é um assunto de gosto ou desgosto no partido da estrela. Quem se mete contra ele vai para o ostracismo.
E tem que ser assim mesmo. Quando o PT defende o direito de abortar, está sustentando uma posição filosófica, política e ideológica, com consequências na vida social. Matéria grave. Pedro-Juan Viladrich, em "Aborto e a sociedade permissiva", ensina que o abortismo ideológico vê as coisas da seguinte maneira: "Existe pessoa quando existe um mundo de consciência explícita, uma ordem de interioridade auto-consciente e um desabrochar da própria liberdade. Uma vez que não possui essas características, o feto talvez seja vida na perspectiva biológica, mas não é um ser humano do ponto de vista ideológico ou cultural; quem suprime um feto suprime vida biológica, mas não uma humanidade".
Compreendeu? Pessoa deixa de ser uma noção objetiva e uma realidade autônoma para se converter numa construção. Nas brilhantes palavras de Viladrich, tais ideólogos da cultura supõem que ao fazer uma "ideia de homem" estejam fazendo o próprio homem "à imagem e semelhança" de sua ideia e de sua vontade. E surge uma insuperável contradição. Só poderia criar o homem a partir de uma ideia quem pudesse criar a si mesmo a partir de uma ideia. Ora, o homem pode tirar-se a própria vida, mas não a pode dar-se; pode tirá-la de outrem, mas não a pode devolver. Por outro lado, não é a cultura que faz o homem ("porque a cultura não cria a si mesma"), mas é o homem quem faz a cultura. Logo, a cultura é a construção e o homem, o construtor. Quando a somali Ayaan Irsi Ali, autora do livro Infiel, chegou à Holanda como refugiada e percebeu que suas conterrâneas continuavam sendo surradas pelos maridos, botou a boca no trombone para exigir do governo holandês que fizesse valer seus princípios e valores para todas as culturas que acolhesse. E conseguiu.
Quem é a favor do aborto coloca outros valores acima da vida humana, e derruba uma cerca inteira para a entrada do pensamento totalitário, para a revolução, para a recusa aos valores tradicionais. Por outro lado, ninguém precisa ser cristão para ser contra o aborto. Basta usar a cabeça com um mínimo de bom senso e respeito a si mesmo e ao próximo. Note-se, então e por fim: também para quem é contra, o aborto não é um tema de gosto ou desgosto. É questão essencial da humanidade!
Pois veja, agora, leitor, as voltas que o mundo dá. Olhos postos no pleito do dia 31, está aí, o PT inteiro, se mobilizando para afirmar que Dilma Rousseff "é contra o aborto"! Explodiram a cláusula pétrea. Descobriram que o discurso pró-aborto faz perder votos? Mas quanto oportunismo!
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