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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A Igreja proibiu a leitura da Bíblia?

A Igreja proibiu a leitura da Bíblia?


Revista: "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 496 - Ano : 2003 - Pág. 457



Em síntese: Até o século XVI não houve obstáculo à leitura da Bíblia na Igreja. Quando, porém, no fim da Idade Média começaram a aparecer movimentos religiosos que se valiam da Bíblia para agitar o povo de Deus, as autoridades eclesiásticos resolveram restringir o uso da Bíblia; só com especial autorização do Bispo poderia ser lida em vernáculo. No século XX, porém, foram canceladas as restrições em favor de repetidas exortações da Igreja ao uso assíduo do texto sagrado. As circunstâncias dos tempos atuais são outras.



Diz-se que a Igreja Católica proibiu aos fiéis a leitura da Bíblia. A afirmação, porém, costuma ser vaga ou destituída de documentação, de modo que não se sabe até que ponto possa ser verídica. Eis por que se impõe o estudo deste assunto.



Até o século XVI



Por toda a Antigüidade o Livro Sagrado era recomendado à leitura dos cristãos. S. Jerônimo (+ 420) é um dos mestres que melhor representam esta atitude pastoral, escrevendo a Eustóquio, filha de Santa Paula:



"Lá com freqüência e aprende o melhor que possas. Que o sono te encontre com o livro nas mãos e que a página sagrada acolha o teu rosto vencido pelo sono" (PL 22,404).



Na Idade Média apareceram correntes dualistas e heréticas que se valiam da Bíblia para apoiar suas concepções errôneas. Tal foi, por exemplo, o caso dos cátaros, avessos à matéria como se esta fosse, por si mesma, má. Em conseqüência, o Concílio de Tolosa (França) em 1229 proibiu o uso de traduções vernáculas da Bíblia. Esta disposição foi retirada pelo Concílio da Tarragona (Espanha) em 1233. A mesma proibição aparece num decreto do rei Jaime I da Espanha em 1235: "Ninguém possua em vernáculo os livros do Antigo e do Novo Testamento".



No século anterior, os Valdenses (de Pedro Valdo, Pierre de Vaux) apoiavam-se na Bíblia traduzida para o provençal, a fim de negar o purgatório, o culto dos Santos, o serviço militar, o juramento ...; só admitiam os sacramentos do Batismo, da Penitência e da Eucaristia.



No século XIV, John Wiclef (1320-84) em Oxford estabeleceu como única norma de fé a Escritura traduzida para o inglês, interpretando subjetivamente a Bíblia, negava a autoridade do Papa, a confissão auricular, a transubstanciação eucarística, o culto dos Santos...; provocava assim grande agitação entre os fiéis. Por isso o Sínodo de Oxford (1408) proibiu a publicação e a leitura de textos vernáculos da Bíblia não autorizados. O mesmo se deu no Sínodo dos Bispos alemães em Mogúncia (1485).



Do Século XVI ao século XIX



As novas ideias que surgiram no decorrer da Idade Média, chegaram ao seu auge na Reforma protestante do século XVI. Esta proclamou a Bíblia como única autoridade decisiva em matéria de fé e de costumes, cada crente é livre para interpretá-la segundo "o livre exame" ou a sua intuição subjetiva. Tais princípios haviam de esfacelar o Cristianismo; logo três reformadores (Lutero, Zvínglio e Calvino) fundaram três novas modalidades de Cristianismo no século XVI; por sua vez, as comunidades reformadas foram reformadas e reformadas sucessivamente, derivando-se deste processo centenas de denominações protestantes independentes umas das outras, porque dependentes da inspiração subjetiva do respectivo fundador.



Ademais os princípios da Reforma protestante fazem violência à própria Escritura, porque a desligam da Tradição oral, que lhe é anterior e sem a qual a Bíblia não pode ser devidamente entendida, cf. 2Ts 2, 5s. 15;3.6...



Eis por que o Concílio de Trento (1543-65) tomou medidas que preservassem os fiéis católicos dos males acarretados pelas proposições dos reformadores, assim



a) declarou autêntica (isenta de erros teológicos) a Vulgata latina, tradução devida a S. Jerônimo (+ 420) e muito difundida entre os cristãos. Assim se dissiparia a confusão existente entre clérigos e leigos, que, em meio a múltiplas traduções, já não sabiam encontrar a pura mensagem bíblica. - O Concílio não quis afirmar que a tradução da Vulgata é lingüísticamente perfeita, mas tomou uma providência necessária no século XVI;



b) rejeitou o princípio do livre exame da Bíblia. Esta só pode ser entendida se iluminada por instâncias objetivas, especialmente pela Tradição, que o magistério da Igreja formula com a assistência do Espírito Santo;



c) proibiu edições da Bíblia sem o nome do autor responsável pela edição. Proibiu também a difusão do texto bíblico sem a autorização do Bispo diocesano;



d) estimulou o reflorescimento dos estudos bíblicos nos colégios, conventos e mosteiros.



O Concílio de Trento definiu mais uma vez o Cânon Bíblico incluindo os deuterocanônicos (Tb, Jt, Sb, Br, Eclo, ½ Mc), como já o tinham feito os Concílios do século IV. A prova de que o Concílio nada inovou é que o próprio Lutero traduziu os deuterocanônicos para o alemão; com efeito, na sua edição da Bíblia datada de 1534 encontra-se o texto dos sete deuterocanônicos, assim como os fragmentos de Éster 10, 4-16, 24, de Daniel 3, 24-90; 13, 1-14, 42 e ainda a "Oração dos Manasses" (Oração que a Tradição cristã não inclui no seu cânon). A persistência desses livros nas edições protestantes bem mostra que não foi o Concílio de Trento que os introduziu no catálogo bíblico, mas Lutero e a Tradição protestante os receberam da Tradição cristã medieval e antiga ou mesmo dos judeus de Alexandria. Foi somente no século XIX que as Sociedades Bíblicas protestantes deixaram de incluir nos seus exemplares da Bíblia os livros deuterocanônicos1.



No tocante às traduções da Bíblia, o Papa Paulo V em 1564 aprovou as seguintes normas:



Regra III : "... (o uso) das traduções dos livros do Antigo Testamento poderá ser concedido, a juízo do Bispo, unicamente a homens doutos e piedosos sob a condição de que tais traduções sejam usadas apenas para esclarecer a Vulgata e melhor entender a S. Escritura ... O uso das traduções do Novo Testamento realizadas por autores da primeira classe" a ninguém seja concedido, porque sua leitura costuma acarretar para os leitores pouca utilidade e grande perigo".



Regra IV: "Tendo-se evidenciado pela experiência que, se se permite a leitura da Sagrada Escritura em língua vernácula de maneira ordinária e indiscriminada, costuma originar-se, em virtude da temeridade dos homens, mais detrimento do que utilidade; é necessário nesse particular seguir o juízo do Bispo ou do Inquisidor, a fim de que, ouvido o pároco ou o confessor, se conceda a leitura da Bíblia em língua vernácula àqueles que se possa prever retirarão de tal leitura aumento de fé e de piedade sem prejuízo algum espiritual" (D. S., Enquirídio 1853s).



Estas disposições hão de ser entendidas dentro das circunstâncias históricas em que foram promulgadas, visavam à preservação da fé ameaçada pelo uso capcioso da Bíblia no século XVI. Tiveram por conseqüência a pouca difusão do texto sagrado entre os católicos e a falta de contato da piedade posterior com as suas fontes bíblicas, tornaram-se, por isto, ponto nevrálgico na disciplina da Igreja, de tal modo que os jansenistas dos séculos XVI/XVIII as impugnaram.



No século XIX multiplicaram-se as Sociedades Bíblicas protestantes, cuja finalidade era difundir a Bíblia em traduções vernáculas. Compreende-se que, na base dos princípios adotados no século XVI, a Igreja se opusesse a tais iniciativas, consideradas como perigosas para a reta fé.



A primeira advertência deu-se em 1816. Ao arcebispo católico que recomendava aos seus fiéis a Sociedade Bíblica fundada em São Petersburgo na Rússia, escrevia o Papa Pio VII:



"A Igreja Romana, segundo as prescrições do Concílio de Trento, reconhece a edição Vulgata da Bíblia e rejeita traduções feitas para outros idiomas, se não estiverem acompanhadas de notas provenientes dos escritos dos Padres e dos doutores católicos, a fim de que tão grande tesouro não seja exposto às corruptelas das novidades...



Se não poucas vezes lamentamos que tenham falhado na interpretação das Escrituras homens piedoso e sábios, como não deveremos recear grandes riscos se se entregarem as Escrituras traduzidas em vernáculo ao povo ignorante, que, na maioria dos casos, carece de discernimento e julga com temeridade ?" (D. S., Enquirídio 2710s).



Em 1844 o Papa Gregório XVI escrevia :



"Não ignorais quanta diligência e sabedoria são necessárias para se traduzir fielmente a Palavra de Deus; em conseqüência, nada há de mais fácil do que nas traduções vernáculas, multiplicadas pelas Sociedades Bíblicas, se introduzirem erros gravíssimos, seja por imprudência, seja por fraude de tantos tradutores; tais erros, aliás, permanecem ocultos, para a perdição de muitos, dada a multidão e a variedade de tais Sociedades. Às Sociedades Bíblicas pouco ou nada interessa o fato de que os homens que lêem a Bíblia em vernáculo, caíam em um ou outro erro; mas lhes importa que se acostumem aos poucos a exercer o livre exame a respeito do sentido das Escrituras e a menosprezar as tradições divinas contidas na doutrina dos Padres e guardadas na Igreja Católica, repudiando assim o próprio magistério da Igreja". (D. S. Enquirídio nº 2771).



Declaração semelhante foi proferida pelo Papa Pio IX em 1846.



Tal posição da Igreja manteve-se até o começo do século XX. Era motivada por circunstâncias contingentes e se revestia de caráter disciplinar, não dogmático. Era, pois, reformável desde que desaparecessem as razões que inspiraram as apreensões decorrentes da difusão do texto sagrado em língua vernácula. Ora realmente no século XX foi-se alterando contexto histórico. O Papa S. Pio X (1903-14) deu início a uma renovação da piedade da Igreja, que fora profundamente marcada pela réplica ao protestantismo, ao jansenismo e heresias dos últimos séculos; a atitude defensiva ou preservadora não podia deixar de empobrecer a piedade católica; fora necessária, mas não se podia manter por mais tempo; nem havia no século XX razões para mantê-la. A volta às fontes, que deve sua inspiração remota a São Pio X, compreenderia a restauração do espírito litúrgico, o recurso freqüente à S. Escritura e a renovação da catequese. Conscientes disto, entramos na história do século XX.



No século XX



Em 1920, o Papa Bento XV quis comemorar o 15º centenário da morte de S. Jerônimo publicando a encíclica Spiritus Paraclitus, na qual escreveu:



"Pelo que Nos toca, Veneráveis Irmãos, à imitação de São Jerônimo jamais deixaremos de exortar todos os fiéis cristãos a que leiam todos os dias principalmente os Santos Evangelhos de Nosso Senhor, os Atos e as epístolas dos Apóstolos, tratando de convertê-los em seiva do seu espírito e em sangue de suas veias". (Enquirídio Bíblico nº 477).



Quanto às disposições para bem aproveitar a leitura bíblica, o Pontífice as resumia nestes termos:



"Todo aquele que se aproxima da Bíblia com espírito piedoso, fé firme, ânimo humilde e sincero desejo de aproveitar, nela encontrará e poderá degustar o pão que desce dos céus" (E.B. nº 489)



A atitude de Bento XV representava algo de novo na Igreja posterior ao Concílio de Trento, mas estava na linha de conduta pastoral do Papa anterior, São Pio X.



Pouco mais de dois decênios decorridos, o Papa Pio XII, na sua encíclica Divino Afflante Spiritu, recomendava por sua vez a difusão da Bíblia entre os fiéis:



"Os prelados favoreçam e prestem ajuda às piedosas associações cuja finalidade é difundir entre os fiéis os exemplares das Sagradas Letras, principalmente dos Evangelhos, e procurar que nas famílias cristãs se faça ordenada e santamente a leitura diária das mesmas, recomendem eficazmente a S. Escritura traduzida para as línguas vernáculas com a aprovação da Igreja" (E.B. nº 566).



A orientação dos Pontífices foi assumida pelo Concílio do Vaticano II (1962-65), especialmente em sua Constituição Dei Verbum, c.6, que trata da S. Escritura na vida da Igreja: um forte estímulo aí é dado à freqüentação cotidiana da Escritura por parte dos fiéis, como também à difusão do texto sagrado em línguas vernáculas:



"Este Sagrado Concílio exorta com ardor e insistência todos os fiéis, mormente os Religiosos, a que aprendam a eminente ciência de Jesus Cristo (Fl 3,8) mediante a leitura freqüente das Divinas Escrituras, porque a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo. Debrucem-se, pois, gostosamente sobre o texto sagrado, quer através da Sagrada Liturgia, rica de palavras divinas, quer pela leitura espiritual, quer por outros meios que se vão espalhando ..., com a aprovação e o estímulo dos pastores da Igreja. Lembrem-se, porém, de que a leitura da S. Escritura deve ser acompanhada da oração, para que seja possível o colóquio entre Deus e o homem; com Ele falamos quando rezamos; a Ele ouvimos quando lemos os divinos oráculos.



Compete aos sagrados pastores, depositários da doutrina apostólica, instruir oportunamente os fiéis que lhes foram confiados, no reto uso dos livros divinos, de modo particular do Novo Testamento, e sobretudo os Evangelhos. E isto por meio de traduções dos textos sagrados, que devem ser acompanhados de notas necessárias e verdadeiramente suficientes para que os filhos da Igreja se familiarizem de modo seguro e útil com a Sagrada Escritura e se embebam do seu Espírito" (nº 25).



Como se vê, não poderia ser mais favorável ao uso da S. Escritura a atitude da Igreja contemporânea. As palavras de S. Jerônimo (+ 420) tornaram-se norma da autoridade eclesiástica. As restrições foram impostas não ao texto latino, mas às traduções vernáculas, em virtude de fatores contingentes; a Igreja, como Mãe e Mestra, sente o dever de zelar pela conservação incólume da fé a Ela entregue por Cristo e ameaçada pelas interpretações pessoais de inovadores da pregação; eis por que lhe pareceu oportuno reservar o uso da Bíblia a pessoas de sólida formação cristã nos séculos em que as heresias pretendiam apoiar no texto sagrado as suas proposições perturbadoras. É, pois, para desejar que os estudiosos entendam os porquês da atitude da Igreja dos séculos XVI-XIX e hoje se sintam convidados a difundir a S. Escritura em comunhão com a Igreja e a sua Tradição.







_______________________________



1 A Sociedade Bíblica de Londres, combatida na Inglaterra por estar publicando os livros deuterocanônicos, insistiu em seu procedimento e, para assegurá-lo, fundou a "Sociedade Bíblica Francesa e Estrangeira", que continuou a editar os sete livros impugnados pelos protestantes, mas que finalmente cedeu às pressões contrárias.



2 Trata-se de autores mencionados nominalmente em outro documento (N.d.R.).



Fonte do Texto: http://www.cleofas.com.br/ver_conteudo.aspx?m=doc&cat=97&scat=174&id=1133

Capitalismo e Cristianismo

Capitalismo e Cristianismo



Olavo de Carvalho





A pedidos, e com notável atraso, reproduzo aqui este artigo que, com título editorial modificado, saiu na revista República de dezembro de 1998. - O. de C.




Uma tolice notável que circula de boca em boca contra os males do capitalismo é a identificação do capitalista moderno com o usurário medieval, que enriquecia com o empobrecimento alheio.



Lugar-comum da retórica socialista, essa ideiazinha foi no entanto criação autêntica daquela entidade que, para o guru supremo Antonio Gramsci, era a inimiga número um da revolução proletária: a Igreja Católica.



Desde o século XVIII, e com freqüência obsessivamente crescente ao longo do século XIX, isto é, em plena Revolução Industrial, os papas não cessam de verberar o liberalismo econômico como um regime fundado no egoísmo de poucos que ganham com a miséria de muitos.



Mas que os ricos se tornem mais ricos à custa de empobrecer os pobres é coisa que só é possível no quadro de uma economia estática, onde uma quantidade mais ou menos fixa de bens e serviços tem de ser dividida como um bolo de aniversário que, uma vez saído do forno, não cresce mais. Numa tribo de índios pescadores do Alto Xingu, a "concentração do capital" eqüivaleria a um índio tomar para si a maior parte dos peixes, seja na intenção de consumi-los, seja na de emprestá-los a juros, um peixe em troca de dois ou três. Nessas condições, quanto menos peixes sobrassem para os outros cidadãos da taba, mais estes pobres infelizes ficariam devendo ao maldito capitalista índio — o homem de tanga que deixa os outros na tanga.





Foi com base numa analogia desse tipo que no século XIII Sto. Tomás, com razão, condenou os juros como uma tentativa de ganhar algo em troca de coisa nenhuma. Numa economia estática como a ordem feudal, ou mais ainda na sociedade escravista do tempo de Aristóteles, o dinheiro, de fato, não funciona como força produtiva, mas apenas como um atestado de direito a uma certa quantidade genérica de bens que, se vão para o bolso de um, saem do bolso de outro. Aí a concentração de dinheiro nas mãos do usurário só serve mesmo para lhe dar meios cada vez mais eficazes de sacanear o próximo.



Mas pelo menos do século XVIII em diante, e sobretudo no XIX, o mundo europeu já vivia numa economia em desenvolvimento acelerado, onde a função do dinheiro tinha mudado radicalmente sem que algum papa desse o menor sinal de percebê-lo. No novo quadro, ninguém podia acumular dinheiro embaixo da cama para acariciá-lo de madrugada entre delíquios de perversão fetichista, mas tinha de apostá-lo rapidamente no crescimento geral da economia antes que a inflação o transformasse em pó. Se cometesse a asneira de investi-lo no empobrecimento de quem quer que fosse, estaria investindo na sua própria falência.



Sto. Tomás, sempre maravilhosamente sensato, havia distinguido entre o investimento e o empréstimo, dizendo que o lucro só era lícito no primeiro caso, porque implicava participação no negócio, com risco de perda, enquanto o emprestador, que se limitava sentar-se e esperar com segurança, só deveria ter o direito à restituição da quantia emprestada, nem um tostão a mais. Na economia do século XIII, isso era o óbvio — aquele tipo de coisa que todo mundo enxerga depois que um sábio mostrou que ela existe. Mas, no quadro da economia capitalista, mesmo o puro empréstimo sem risco aparente já não funcionava como antes — só que nem mesmo os banqueiros, que viviam essa mudança no seu dia a dia e aliás viviam dela, foram capazes de explicar ao mundo em que é que ela consistia. Eles notavam, na prática, que os empréstimos a juros eram úteis e imprescindíveis ao desenvolvimento da economia, que portanto deviam ser alguma coisa de bom. Mas, não sabendo formular teoricamente a diferença entre essa prática e a do usurário medieval, só podiam enxergar-se a si próprios como usurários, condenados portanto pela moral católica. A incapacidade de conciliar o bem moral e a utilidade prática tornou-se aí o vício profissional do capitalista, contaminando de dualismo toda a ideologia liberal (até hoje todo argumento em favor do capitalismo soa como a admoestação do adulto realista e frio contra o idealismo quixotesco da juventude). Karl Marx procurou explicar o dualismo liberal pelo fato de que o capitalista ficava no escritório, entre números e abstrações, longe das máquinas e da matéria — como se fazer força física ajudasse a solucionar uma contradição lógica, e aliás como se o próprio Karl Marx houvesse um dia carregado algum instrumento de trabalho mais pesado que uma caneta ou um charuto. Mais recentemente, o nosso Roberto Mangabeira Unger, o esquerdista mais inteligente do planeta, e que só não é plenamente inteligente porque continua esquerdista, fez uma crítica arrasadora da ideologia liberal com base na análise do dualismo ético (e cognitivo, como se vê em Kant) que é a raiz da esquizofrenia contemporânea.



Mas esse dualismo não era nada de inerente ao capitalismo enquanto tal, e sim o resultado do conflito entre as exigências da nova economia e uma regra moral cristã criada para uma economia que já não existia mais. O único sujeito que entendeu e teorizou o que estava acontecendo foi um cidadão sem qualquer autoridade religiosa ou prestígio na Igreja: o economista austríaco Eugen Böhm-Bawerk. Este gênio mal reconhecido notou que, no quadro do capitalismo em crescimento, a remuneração dos empréstimos não era apenas uma conveniência prática amoral, mas uma exigência moral legítima. Ao emprestar, o banqueiro simplesmente trocava dinheiro efetivo, equivalente a uma quota calculável de bens na data do empréstimo, por um dinheiro futuro que, numa economia em mudança, podia valer mais ou valer menos na data da restituição. Do ponto de vista funcional, já não existia mais, portanto, diferença positiva entre o empréstimo e o investimento de risco. Daí que a remuneração fosse tão justa no primeiro caso como o era no segundo. Tanto mais justa na medida mesma em que o liberalismo político, banindo a velha penalidade da prisão por dívidas, deixava o banqueiro sem a máxima ferramenta de extorsão dos antigos usurários.



Um discípulo de Böhm-Bawerk, Ludwig von Mises, explicou mais detalhadamente essa diferença pela intervenção do fator tempo na relação econômica: o emprestador troca dinheiro atual por dinheiro potencial, e pode fazê-lo justamente porque, tendo concentrado capital, está capacitado a adiar o gasto desse dinheiro, que o prestamista por seu lado necessita gastar imediatamente para tocar em frente o seu negócio ou sua vida pessoal. Von Mises foi talvez o economista mais filosófico que já existiu, mas, ainda um pouco embromado por uns resíduos kantianos, nem por um instante pareceu se dar conta de que estava raciocinando em termos rigorosamente aristotélico-escolásticos: o direito à remuneração provém de que o banqueiro não troca simplesmente uma riqueza por outra, mas troca riqueza em ato por riqueza em potência, o que seria rematada loucura se o sistema bancário, no seu conjunto, não estivesse apostando no crescimento geral da economia e sim apenas no enriquecimento da classe dos banqueiros. A concentração do capital para financiar operações bancárias não é portanto um malefício que só pode produzir algo de bom se for submetido a "finalidades sociais" externas (e em nome delas policiado), mas é, em si e por si, finalidade socialmente útil e moralmente legítima. Sto. Tomás, se lesse esse argumento, não teria o que objetar e certamente veria nele um bom motivo para a reintegração plena e sem reservas do capitalismo moderno na moral católica. Mas Sto. Tomás já estava no céu e, no Vaticano terrestre, ninguém deu sinal de ter lido Böhm-Bawerk ou Von Mises até hoje. Daí a contradição grosseira das doutrinas sociais da Igreja, que, celebrando da boca para fora a livre iniciativa em matéria econômica, continuam a condenar o capitalismo liberal como um regime baseado no individualismo egoísta, e terminam por favorecer o socialismo, que agradece essa colaboração instituindo, tão logo chega ao poder, a perseguição e a matança sistemática de cristãos, isto é, aquilo que o Dr. Leonardo Boff, referido-se particularmente a Cuba, denominou "o Reino de Deus na Terra". Daí, também, que o capitalista financeiro (e mesmo, por contaminação, o industrial), se ainda tinha algo de cristão, continuasse a padecer de uma falsa consciência culpada da qual só podia encontrar alívio mediante a adesão à artificiosa ideologia protestante da "ascese mundana" (juntar dinheiro para ir para o céu), que ninguém pode levar a sério literalmente, ou mediante o expediente ainda mais postiço de fazer majestosas doações em dinheiro aos demagogos socialistas, que, embora sejam ateus ou no máximo deístas, sabem se utilizar eficazmente da moral católica como instrumento de chantagem psicológica, e ainda são ajudados nisto — porca miséria! — pela letra e pelo espírito de várias encíclicas papais.



Uma das causas que produziram o trágico erro católico na avaliação do capitalismo do século XIX foi o trauma da Revolução Francesa, que, roubando e vendendo a preço vil os bens da Igreja, enriqueceu do dia para a noite milhares de arrivistas infames e vorazes, que instauraram o império da amoralidade cínica, o capitalismo selvagem tão bem descrito na obra de Honoré de Balzac. Que isso tenha se passado logo na França, "filha dileta da Igreja", marcou profundamente a visão católica do capitalismo moderno como sinônimo de egoísmo anticristão. Mas seria o saque revolucionário o procedimento capitalista por excelência? Se o fosse, a França teria evoluído para o liberal-capitalismo e não para o regime de intervencionismo estatal paralisante que a deixou para sempre atrás da Inglaterra e dos Estados Unidos na corrida para a modernidade. Um governo autoritário que mete a pata sobre as propriedades de seus adversários para distribuí-las a seus apaniguados, é tudo, menos liberal-capitalista: é, já, o progressismo intervencionista, no qual, por suprema ironia, a Igreja busca ainda hoje enxergar um remédio contra os supostos males do liberal-capitalismo, que por seu lado, onde veio a existir — Inglaterra e Estados Unidos —, nunca fez mal algum a ela e somente a ajudou, inclusive na hora negra da perseguição e do martírio que ela sofreu nas mãos dos comunistas e de outros progressistas estatizantes, como os revolucionários do México que inauguraram nas Américas a temporada de caça aos padres. O caso francês, se algo prova, é que o "capitalismo selvagem" floresce à sombra do intervencionismo estatal, e não do regime liberal (coisa aliás arquiprovada, de novo, pelo cartorialismo brasileiro). Insistindo em dizer o contrário, movida pela aplicação extemporânea de um princípio tomista e vendo no estatismo francês o liberal-capitalismo que era o seu inverso, a Igreja fez como essas mocinhas de filmes de suspense, que, fugindo do bandido, pedem carona a um caminhão... dirigido pelo próprio. A incapacidade de discernir amigos e inimigos, o desespero que leva o pecador a buscar o auxílio espiritual de Satanás, são marcas inconfundíveis de burrice moral, intolerável na instituição que o próprio Cristo designou Mãe e Mestra da humanidade. Errare humanum est, perseverare diabolicum: a obstinação da Igreja em suas reservas contra o liberal-capitalismo e em sua conseqüente cumplicidade com o socialismo é talvez o caso mais prolongado de cegueira coletiva já notado ao longo de toda a História humana. E quando em pleno século XIX o papa já assediado de contestações dentro da Igreja mesma proclama sua própria infalibilidade em matéria de moral e doutrina, isto não deixa de ser talvez uma compensação psicológica inconsciente para a sua renitente falibilidade em matéria econômica e política. Daí até o "pacto de Metz", em que a Igreja se ajoelhou aos pés do comunismo sem nada lhe exigir em troca, foi apenas um passo. Ao confessar que, com o último Concílio, "a fumaça de Satanás entrara pelas janelas do Vaticano", o papa Paulo VI esqueceu de observar que isso só podia ter acontecido porque alguém, de dentro, deixara as janelas abertas.



Que uma falsa dúvida moral paralise e escandalize as consciências, introduzindo nelas a contradição aparentemente insolúvel entre a utilidade prática e o bem moral, e, no meio da desorientação resultante, acabe por levar enfim a própria Igreja a tornar-se cúmplice do mais assassino e anticristão dos regimes já inventados —eis aí uma prestidigitação tão inconfundivelmente diabólica, que é de espantar que ninguém, na Igreja, tenha percebido a urgência de resolver essa contradição no interior mesmo da sua equação lógica, como o fizeram Böhm-Bawerk e von Mises (cientistas alheios a toda preocupação religiosa). Mais espantoso ainda é que em vez disso todos os intelectuais católicos, papas inclusive, tenham se contentado com arranjos exteriores meramente verbais, que acabaram por deixar no ar uma sugestão satânica de que o socialismo, mesmo construído à custa do massacre de dezenas de milhões de cristãos, é no fundo mais cristão que o capitalismo.



Não há alma cristã que possa resistir a um paradoxo desse tamanho sem ter sua fé abalada. Ele foi e é a maior causa de apostasias, o maior escândalo e pedra de tropeço já colocado no caminho da salvação ao longo de toda a história da Igreja.



Arrancar da nossa alma essa sugestão hipnótica, restaurar a consciência de que o capitalismo, com todos os seus inconvenientes e fora de toda intervenção estatal pretensamente corretiva, é em si e por essência mais cristão que o mais lindinho dos socialismos, eis o dever número um dos intelectuais liberais que não queiram colaborar com o farsesco monopólio esquerdista da moralidade, trocando sua alma pelo prato de lentilhas da eficiência amoral.





domingo, 21 de novembro de 2010

Ódio à realidade

Ódio à realidade

Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 17 de maio de 2007



O sexo anal pode dar câncer no reto; o oral, câncer na garganta. Excluída a masturbação, que não exige parceiros, eis aí esgotado, com riscos incomparavelmente mais altos que os do abominado tabaco, o rol dos contatos sexuais possíveis numa relação gay. Que haverá nisso de tão excelso para que toda crítica a essas atividades seja proibida por lei?



Decerto estou mais disposto a defender o direito de os senhores parlamentares se entregarem a esses perigosos afazeres do que eles a me deixar acender um único cigarro nas áreas cada vez mais vastas onde o proíbem.



O que não posso entender é que atos prejudiciais à saúde devam ser considerados mais dignos de proteção oficial do que a boa e velha relação conjugal da qual todos nascemos, ao ponto de a simples afirmação da superioridade desta última ser condenada como uma abominação e um crime. Afinal, não é possível fazer sexo oral ou anal sem ter nascido, nem muito menos nascer mediante uma dessas práticas, ao passo que o nascimento as antecede de muitos anos e independe delas por completo. Entre as diversas atividades sexuais, aquela da qual deriva a continuidade da espécie humana tem manifesta prioridade sobre as que se destinam somente a fins lúdicos ou deleitosos, por mais interessantes que estas pareçam a seus aficionados.



Não posso crer que meu pai teria agido melhor se em vez de depositar seu esperma no ventre da minha mãe ele o injetasse no conduto retal do vizinho, de onde o referido líquido iria para a privada na primeira oportunidade. Nem há como imaginar que essas duas hipóteses sejam tão nobres e respeitáveis uma quanto a outra. Por mais que à luz da doutrina gay isto soe até presunçoso, não posso admitir que eu e um cocô sejamos resultados igualmente desejáveis e valiosos de uma relação sexual. Nem suponho que os próprios senhores parlamentares mereçam esse radical nivelamento, ainda que muitos se esforcem para alcançá-lo.



Tudo isso é bastante evidente, e o deputado Clodovil Hernandes é a prova de que não é preciso ser heterossexual para admiti-lo. Se a afirmação do óbvio está em vias de se tornar crime, é porque o ódio do movimento gay não se volta contra injustiças e perseguições reais (infinitamente menores, em todo caso, do que aquelas sofridas pelos cristãos e judeus), mas contra a razão, a lógica, o bom-senso e a civilização. Culturalmente, a ideologia gay nasce de correntes de pensamento que professam destruir a "tirania do logos" e instaurar, em lugar da ordem racional, a pura vontade de poder de um ativismo prepotente e chantagista.



Cada vez que um de seus porta-vozes, como uma nova Rainha de Copas, ordena que todos se prosternem diante de exigências absurdas, ele sabe que não está combatendo "a homofobia", mas a estrutura da realidade ou, em termos religiosos, o Verbo divino. Só a opção total pela irracionalidade explica que, sob a alegação de proteger uma comunidade contra a mera opinião alheia, se busque submeter a novas perseguições judiciais outras comunidades que não estão expostas ao simples risco de ouvir palavras desagradáveis, mas de morrer em campos de extermínio.



sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Adão e Eva existiram verdadeiramente?

Adão e Eva existiram verdadeiramente?

D. Estevão Bettencourt . osb - Mosteiro de S.Bento - Rio de Janeiro


O livro do Gênesis, em seus três primeiros capítulos, usa de lin­guagem figurada para enunciar verdades perenes. Visto que já temos comentado tal matéria repetidarnente1, limitar-nos-emos abaixo a res­ponder estritamente a questão do título deste artigo, questão aliás freqüentemente formulada e nem sempre devidamente elucidada




Eis o que se deve guardar a propósito:



1) O Senhor Deus criou o ser humano masculino e feminino (sem que esteja excluída a evolução da matéria preexistente até chegar ao grau de complexidade do corpo humano);



2) O Senhor concedeu aos primeiros pais urna especial graça espi­ritual chamada "justiça original", que conferia ao homem eminente digni­dade;



3) consequentemente o Criador indicou aos primeiros pais um modelo de vida, figurado pela proibição de comer a fruta da árvore da ciência do bem e do mal. Já que o homem era elevado a especial com­unhão com Deus, devia comportar-se não simplesmente de acordo com seu bom senso ou suas intuições racionais, mas segundo as normas correspondentes a sua dignidade de filho de Deus;



4) O homem, por soberba, disse Não a esse modelo de vida ou ao convite do Criador, perdendo assim a justiça original.



Pois bem. Adão e Eva representam o ser humano assim tratado por Deus. São tão reais quanto é real o gênero humano. Deus se apre­sentou ao homem nas suas origens, ... ao homem real e não a um ser fictício. Verdade é que Adão e Eva são nomes de origem hebraica; não podem ser os nomes dos primeiros seres humanos, mas representam os primeiros seres humanos.



Há quem indague a respeito do aspecto físico dos primeiros ho­mens: eram belos, como dão a entender certos quadrinhos e filmes catequéticos?



Respondemos que a tradição judaico-cristã - sempre julgou que os primeiros pais eram dotados de harmonia ou beleza física correspondente as riquezas sobrenaturais de sua alma; terão perdido esse encanto após o pecado, gerando e então uma estirpe caracterizada por traços somáticos primitivos e cultura rudimentar; tal é, sim, a linhagem de que nos falam os fósseis. - Contudo não há necessidade de admitir que Adão tenha sido fisicamente mais belo e culturalmente mais evoluído do que os demais homens da pré-história; pode-se muito bem conceber que os dotes de alma que ele possuía, não se espelhavam sobre o seu corpo; a manifestação desses dons estava condicionada a perseverança de Adão no estado de inocência. O primeiro pai, porém, não perseverou; por isto, não se terá diferenciado, no plano meramente natural, dos demais ho­mens pré-históricos.



Não se deve acentuar exageradamente a perfeição do estado pri­mitivo da humanidade dito "de justiça original". Terá sido um estado digno de todo apreço, mas do ponto de vista religioso e moral apenas, não sob o aspecto da civilização ou da cultura. Os primeiros homens de que fala o Gênesis, podem muito bem ter tido a configuração rudimentar e grosseira de que dão indícios os fósseis da pré-história; não é necessá­rio que hajam vivido de modo diferente daquele que conjeturam as ciên­cias naturais. Mesmo as idéias religiosas de Adão poderão ter sido pu­ras, sim, mas sob a forma de intuições concretas semelhantes as dos povos primitivos e das crianças; não se tratava de altos conhecimentos teológicos. - Vê-se, pois, que as clássicas descrições do "paraíso terres­tre" não devem em absoluto ser identificadas com a doutrina da fé.



Ver PR 390/1994, pp. 521ss; 343/1995, pp. 55s; 425/1997, pp. 442ss.

Identidade Gay Visa Acabar com a Decencia Humana

domingo, 14 de novembro de 2010

O caráter do estado moderno


Nivaldo Cordeiro ,14 Novembro 2010



Não se pode ter qualquer ilusão quanto ao caráter do Estado moderno e é dever de um cristão consciente denunciá-lo e combatê-lo. E eliminar qualquer ilusão que se possa ter de que alguma bondade possa derivar desse leviatã maldito.




O artigo publicado no jornal eletrônico Mídia Sem Máscara (Estado: ministro de Deus), escrito a quatro mãos por Julio Severo e o Pr. Marcello de Oliveira, traz-nos um excelente tema para discussão. O que é o Estado? Em última análise, é uma estrutura jurídica organizada burocraticamente com o objetivo de fazer prevalecer a vontade política da elite dirigente. Gosto dessa definição porque ela é exata. Claro que o Estado tem que respeitar a vontade geral, mas nem sempre o faz. Claro que ele deveria respeitar a lei natural, mas há séculos não o faz. Claro que deveria ser um instrumento pelo qual a justiça divina fosse corretamente administrada e ministrada aos delinqüentes, mas o Estado moderno deu as costas à transcendência, de sorte que aquilo que é definido como crime deixou de ter raíz em Deus.



O artigo, embora bem escrito, peca precisamente por pensar o Estado em termos do "como se", ou seja, como se o Estado buscasse o bem comum e estivesse de acordo com a lei natural. Acontece precisamente o oposto desde que irrompeu o primeiro Estado nacional, suplantando a ordem medieval e inaugurando a modernidade. Desde Maquiavel, pelo menos, os dirigentes estatais deixaram de buscar o ideal de Estado que nasceu com Platão e Aristóteles e foi consagrado pela Igreja. Desde então valeu o que os homens modernos pensaram: o Estado é um espólio a ser apropriado pelos novos príncipes em constante luta entre si para se apossar dele.



No meio dessa luta há o problema do consentimento ou da legitimidade dos governantes. Os novos príncipes passaram a cultivar os mais baixos instintos das multidões como instrumento de alcançar o poder e nele se legitimar.



O novo Estado moderno também perdeu qualquer amarra com a lei natural, passando o processo legislativo a ser completamente autônomo e arbitrário em relação à lei divina e à lei natural. Afirmo, sem medo de errar, que desde Felipe II da Sicília o corpo legislativo de todos os Estados adquiriu a autoridade da lei divina, mas seu processo foi completamente descolado da transcendência. Além de fazer do poder a fonte única do direito, o novo legislativo, na sua imanência radical, tem buscado o que a Igreja e as Escrituras rejeitaram desde sempre: o perfectibilismo humano. O que temos visto é precisamente isso: os novos príncipes, para terem o poder de mando sobre o Estado, prometem ao povo todo tipo de perfectibilismo, como se estivesse ao seu alcance eliminar as tragédias humanas. Começa pela enorme blasfêmia contida na afirmação de que "todo poder emana do povo e em seu nome será exercido", se esquecendo que todo poder emana de Deus ele mesmo.



Aí está a raiz de todas as revoluções. No século XX conhecemos o aprofundamento das democracias com o uso do expediente do voto universal, que permitiu fazer emergir o que elas têm de pior: a adulação das massas - ou do homem-massa, como observou Ortega yGasset - em nível nunca antes visto. Ao Estado cabe agora eliminar a lei da escassez, prover Educação e Saúde, eliminar os riscos existenciais, corrigir o clima, substituir a família como célula formadora de homens íntegros, corrigir qualquer tipo de singularidade natural. A palavra igualdade será o mantra a ser perseguido em todas as circunstâncias. Todas as decisões estatais serão agora tomadas com o fito de instituir essa utopia nefasta, contrária à lei divina. Até mesmo a hierarquia natural de amar a Deus sobre todas as coisas é deixada de lado. O supremo crime agora é descumprir qualquer lei estatal, mesmo que esta seja ostensivamente injusta e contra o direito natural. Um exemplo óbvio é a legislação sobre o aborto que se espalha sobre o planeta, gerando o que João Paulo II chamou de "cultura de morte".



Os autores escreveram: "A função de autoridade governamental constituída é trabalhar como ministro de Deus para o bem, isto é, para a segurança, ordem e a paz da sociedade (Rm 13:3,4)". Eles deveriam escrever que essa "deveria" ser a função, mas que há muito ela foiabandonada e que é essa toda a tragédia da modernidade. Vimos Obama com seu sistema de saúde, vimos Lula e Dilma com suas múltiplas bolsas. Esses novos príncipes querem aperfeiçoar o homem, adular as massas contra a natureza apenas e tão somente para chegar ao poder e nele se manter. As recentes eleições no Brasil formam um exemplo claro dessa descida aos infernos da política. Diferentemente dos EUA nossa gente está politicamente muito mais doente.



São Paulo, quando escreveu suas epístolas, tinha diante de si uma realidade de poder, o Império Romano, firmemente comprometido com o direito natural aristotélico, que moldou sua estrutura jurídica. Ele estava correto por essa via. E, por outro lado, bem sabia que o Reino de Deus não é desse mundo, faça lá o Estado o que fizer cabe ao cristão estar de acordo com a lei de Deus, que é transcendente e além do Estado. Paulo, como Cristo, recusou-se o papel de revolucionário, embora nunca se enganasse quanto à natureza real do Estado. Cristo diante de Pilatos e do Sinédrio é o exemplo mais consumado da injustiça que o Estado pode cometer. O Estado condenou o Justo dos justos.



O Estado moderno não apenas não está comprometido com o bem comum, ele encarna o próprio mal. Ele realiza os massacres em larga escala, pelas guerras. Ele mata inocentes como a polícia brasileira tem matado. Ele encarcera como jamais as multidões foram encarceradas, desde o início dos tempos. Ele interfere na relação do homem com a mulher, do casal com seus filhos, na relação com vizinhos, em tudo. Regula tudo. Policia tudo. Com os meios técnicos disponíveis fez uma prisão eletrônica que por ela praticamente eliminou a liberdade em geral. Não se pode ter qualquer ilusão quanto ao caráter do Estado moderno e é dever de um cristão consciente denunciá-lo e combatê-lo. E eliminar qualquer ilusão que se possa ter de que alguma bondade possa derivar desse leviatã maldito.





Compreender que o Estado moderno encarna a rebelião do homem contra Deus e que ele é a grande máquina de matar, como descrita no Livro do Apocalipse, é um salto de consciência que exige grandes estudos e muito compromisso moral. Estamos todos acostumados a esperar por soluções estatais, seja para resolver os problemas do cotidiano, que as pessoas poderiam resolver por si mesmas, seja para resolver falsos problemas, como o tamanho da população, o clima, a poluição do ar e quimeras equivalentes que se multiplicam no dia a dia.



O Estado moderno não é apenas laico, mas ateu. No seu ateísmo construiu uma nova forma de deidade, muito parecida com aquela que é própria dos Estados islâmicos. Na verdade, o Estado moderno é a islamização da política no Ocidente, fato bem observado por Miguel de Cervantes no Dom Quixote. Mas a demonstração desse fato é mais longa e exigiria um espaço mais amplo do que um mero artigo de opinião.

Denuncia Pe. Paulo Ricardo

        SÃO PAULO, 13 Out. 10 (ACI) .- Em um recente vídeo que leva por título "Em defesa da Vida" o Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Júnior da Arquidiocese de Cuiabá (MT), onde o padre atualmente é Vigário Judicial, denuncia que o Partido dos Trabalhadores não quer apenas legalizar a possibilidade do aborto, mas quer transformar o aborto em um direito, algo nunca antes visto na historia do Brasil. No vídeo o sacerdote apresenta fatos que desmentem as palavras do PT, cujo presidente na Paraíba, Rodrigo Soares, afirmou estar "profundamente comprometido com a vida". Segundo o Pe. Paulo Ricardo, o compromisso do PT com a legalização do aborto no país é histórico e real, e nada tem de boataria.



"A maioria cristã deste país impôs ao debate político uma questão que os políticos não queriam tratar: a questão do aborto". "Nós rompemos o Silêncio", explicou o sacerdote.

"Precisamos dizer aos políticos deste país que nós estamos muito preocupados por este tema do aborto", afirmou o padre, rebatendo a afirmação de um dos membros da executiva nacional do PT na quel afirmou que "o tema do aborto voltará para o submundo da política de onde nunca deveria ter saído". "Eles querem calar o tema", mas nós "precisamos manter acesso este debate", advertiu o Pe. Paulo Ricardo.



"Nós cristãos, fizemos que este tema viesse à tona através da internet. (...) Mas a internet não basta.

O Vigário mato-grossense pede aos expectadores que saiam às ruas para divulgar "um instrumento precioso deste nosso projeto de debater amplamente a questão do aborto", referindo-se ao Apelo dos bispos do Regional Sul 1 da CNBB. Esta carta dos bispos de São Paulo "contém uma série de informações preciosas não somente para os fiéis católicos para as dioceses deles, mas para todos os brasileiros. Porque aquilo que os bispos estão revelando são fatos. (...) Não interessa se você é católico ou não, para votar no próximo 31 de outubro você precisa conhecer estes fatos", declarou o sacerdote brasileiro.



Animando os internautas a assistirem também o vídeo Mãe do Brasil, no qual se vê "uma fotografia dos documentos em que o PT assumiu não somente nos seus documentos internos, mas também nos documentos do governo brasileiro, o compromisso sério de legalizar o aborto no nosso país".

"São fatos, não são boatarias. (...) Contra fatos não há argumentos", denunciou o sacerdote.



Falando da tentativa de algumas pessoas querem desacreditar o Apelo dos bispos do Regional Sul 1 da CNBB "dizendo que afinal, são bispos de São Paulo e que não podem falar a todo o povo brasileiro", o sacerdote afirma que a grande autoridade que estes prelados exercem no apelo é "a autoridade dos fatos". "É a autoridade dos fatos que está falando ao cidadão brasileiro", destacou.

"O Brasileiro não pode votar às escuras, ele precisa ser iluminado pelos fatos", disse também o clérigo.



O Pe. Paulo também adverte que neste segundo turno, "nós não temos que escolher aqui entre dois candidatos, nós temos que escolher entre dois partidos".

"Trata-se de compreender que este partido, chamado Partido dos Trabalhadores, o PT, tem um compromisso histórico e real, ele tem compromissos assumidos para legalizar o aborto. Não se trata de fazer propaganda, mas compreender quem é esse partido e que tipo de acordos quase secretos que realizaram". "São acordos públicos que o público não tem conhecimento", assinalou.



Citando os exemplos da Itália e da Alemanha, o padre explica que a que a Igreja quer é "esclarecer à população quem é o PT". Assim o padre avisa que intenção dos bispos de São Paulo com este apelo é "esclarecer os fatos", e entre eles, o vídeo denuncia o fato de que o Partido dos Trabalhadores quer "transformar o aborto em um direito".



"O Partido dos Trabalhadores e várias das pessoas que estão nele, querem transformar o aborto em um direito. Isso é uma coisa nunca que nunca vimos na historia do nosso país", destacou o padre Azevedo.

"Transformar algo que hoje é crime não somente em algo lícito, mas em um verdadeiro direito é o que o PT chama em seus documentos internos como direitos reprodutivos", denunciou o Pe. Paulo Ricardo.

"Você concorda com isso? Você quer que o aborto deixe de ser crime e se converta em um direito? Acho que esta não é a opinião da maior parte dos brasileiros", respondeu.



Falando sobre manifestações contra um sacerdote que se manifestou recentemente contra o PT onde alguns diziam que "esse padre deveria ir para a cadeia". O sacerdote disse que acusações deste tipo são feitas por pessoas que agridem e "depois se fazem de vítima".

"O PT está falando nas suas campanhas e o eleitor também tem direito de falar. E se o eleitor não quer que este partido presida o nosso país, ora, que pegue seu banquinho e saia de mansinho", disse o sacerdote afirmando que ao "perseguir-nos, na verdade o efeito está sendo o contrário".



Referindo-se a alguns que dizem que as denúncias como as do Pe. Azevedo são uma ingerência da Igreja no Estado e que a Igreja "não deve se intrometer", o padre disse que isto lhe resulta "muito engraçado", pois quando a Igreja, durante anos, ajudou o PT para que ele chegasse ao governo, Ela era uma Igreja da qual todos se orgulhavam", mas agora que a "Igreja critica este partido, então é uma ingerência no estado laico". "Eu não entendo este tipo de argumentação", comentou o sacerdote.



Para se aprofundar na estratégia internacional de legalização do aborto nos países da América Latina, o Pe. Paulo Ricardo mencionou o documento "Contextualização da defesa da vida no Brasil", citado no Apelo dos bispos de São Paulo, que pode ser baixado neste link.



"Nós estamos na Festa de Nossa Senhora Aparecida, Imperatriz do Brasil, nós estamos no mês do Rosário. Nós sabemos que a grande arma que nós podemos usar é o Santo Terço, colocando nas mãos da Virgem Santíssima todo este evento histórico onde os cristãos devem fazer o possível para que sua voz seja mais uma vez calada".



"Que Deus abençoe e ilumine a nossa decisão e que a Virgem nos cubra com seu manto protetor", é o pedido final do Pe. Paulo Ricardo. O Vídeo, através de fortes imagens que mostram a prática anti-vida do aborto conclui com o alerta de que "Nossa nação, valores, princípios e famílias correm perigo(...). Absurdo é tornar assassinato em direito".



O Vídeo do Pe. Paulo Ricardo de Azevedo pode ser visto no site:

http://padrepauloricardo.org/blog/em-defesa-da-vida/



O Vídeo Mãe do Brasil pode ser visto no seguinte link:



sábado, 13 de novembro de 2010

A Igreja Católica e sua História.

O Prof. Felipe Aquino e o Padre Paulo Ricardo, esclarecem certos pontos da História do catolicismo e respondem a ataques protestantes.
Além disso, o Pe. Paulo relembra a todos os católico de que a Igreja nasceu Católica.






















O Escola da fé é exibido todas as quintas feiras ás 20: 30, nas Canção Nova.

A veneração dos santos através de uma perspectiva bíblica.


Começamos em Hebreus 11, versiculo 1: "A fé é uma posse antecipada do que se espera, um meio de demonstrar as realidades que não se vêem. Foi por ela que os antigos deram o seu testemunho. Foi pela fé que compreendemos que os mundos foram organizados por uma palavra de Deus. Por isso é que o mundo visível não tem a sua origem em coisas manifestas."




Aí São Paulo começa a citar um por um dos grandes santos da família de Deus do Antigo Testamento começando com o primeiro mártir, Abel, que tinha oferecido um sacrifício aceito por Deus. E depois Henoc e Noé e Abraão, Isac, Jacó e Sara. Depois continua a falar de Abraão, Isac e Jacó, e todo o sofrimento que eles passaram por que a esperança deles não estava na Jerusalém terrena, mas na Jerusalém celeste; não na terra prometida terrena, mas na celeste.



Então no versículo 23 ele fala sobre Moises e tudo o que ele renunciou para ganhar esta herança gloriosa no céu; e da mesma forma, Israel. E depois Raab, a prostituta de Jericó: até mesmo a fé dela é exaltada. Depois Gedeão, Barac, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e os profetas que pela fé conquistaram reinos, receberam promessas, deteram as bocas de leões e acabaram com fogueiras devastadoras, escaparam da espada, tiraram fortaleza da fraqueza, tornaram-se poderosos na guerra, fizeram os exércitos inimigos fugir. Todos os grandes feitos são relembrados não só para passar pela história mas principalmente, como você verá, para inspirar uma fé, esperança e amor maiores em nós.



No versiculo 36: "Outros ainda sofreram a provação dos escárnios, experimentaram o açoite, as correntes e as prisões. Foram lapidados, foram serrados e morreram assassinados com golpes de espada. Levaram vida errante, vestidos com peles de carneiro ou pêlos de cabras; oprimidos e maltratados, sofreram privações. Eles, de quem o mundo não era digno, erravam pelos desertos e pelas montanhas, pelas grutas e cavernas da terra. E não obstante, todos eles, se bem que pela fé tenham recebido um bom testemunho, apesar disso não obtiveram a realização da promessa. Pois Deus previa para nós algo de melhor, para que sem nós não chegassem à plena realização."



Assim, de certa maneira, o advento de Cristo e da economia da Nova Aliança trouxeram uma benção e glória para estes santos do Antigo Testamento maior do que a que eles receberam quando morreram. Algo novo foi inaugurado quando Cristo ressuscitou, quando ele subiu aos céus e quando subiu ao trono. Ele abriu um novo panorama, uma nova porta, a porta de entrada para o céu, para que seus irmãos viessem pra casa. Nós veremos mais adiante como foi colacado neste reino glorioso no céu tronos e neles estão sentados este grandes santos, bem como os santos da Nova Aliança. E eles são sacerdotes, eles testemunham para servir a Cristo e para rezar em nosso favor.



Mas observe que o autor de Hebreus relembra tudo isto para nos inspirar a seguir o exemplo deles. Isto vai ser uma consideração fundamental para entender a base lógica bíblica para a veneração dos santos. Exemplos heróicos inspiram virtudes heróicas. Vejamos Hebreus 12: "Portanto" (um dos mais básicos princípios interpretativos de estudos biblicos, sempre que aparecer a palavra, "portanto", pergunte a si mesmo o que vem a seguir pois basicamente há um resumo de tudo o que foi dito anteriormente e encerra com uma conclusão prática, especialmente na carta aos Hebreus.) "Portanto, também nós, com tal nuvem de testemunhas ao nosso redor, rejeitando todo fardo e pecado que nos envolve, corramos com perseverança para o certame que nos é proposto, com os olhos fixos naquele que é o autor e realizador da fé, Jesus, que, em vez da alegria que lhe foi proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e se assentou à direita do trono de Deus. Considerai, pois, aquele que suportou tal contradição por parte dos pecadores, para não vos deixardes fatigar pelo desanimo. Vós ainda não resististes até o sangue em vosso combate contra o pecado. Vós esquecestes a exortação que vos foi dirigida como a filhos?"



E ele continua a falar sobre a disciplina de Nosso Senhor e a castidade e sofrimento que é próprio aos filhos de Deus para amadurecer e crescer. Então no versículo 12: "Por isso, reerguei as mãos enfraquecidas e os joelhos tropegos; endireitai os caminhos para os vossos pés, a fim de que não se extravie o que é manco, mas antes seja curado."



Todo o quadro em Hebreus 12 é uma grande corrida e quem está na multidão? Todos os santos. E o que eles compõem? Versiculo 1, "uma nuvem de testemunhas". O que se quer dizer com nuvem? Bem, se você fizer um pouquinho de estudo de fundo biblico, esta nuvem é a mesma nuvem que se pode rastrear de volta ao Antigo Testamento. É a a nuvem de glória em que Moisés subiu no Monte Sinai. É a mesma nuvem que cobriu Jesus quando ele ascendeu aos céus diante dos olhos dos discípulos. Esta nuvem de uma certa forma é uma manifestação portátil daquilo que é como estar "movido pelo Espírito" como João no livro do Apocalipse: "No dia do Senhor fui movido pelo Espírito", e esta nuvem de glória agora está repleta de nossos irmãos e irmãs mais velhos. E eles constituem uma nuvem de testemunhas, não é apenas uma nuvem que vai e vem conforme sopra o vento. É uma nuvem que é uma multidão com o objetivo de nos animar.



Quando o time1 joga em casa, as chances são maiores dele ganhar o jogo. Por quê? Porque os seus torcedores estão lá. Você pode dizer que é porque eles conhecem melhor o campo. Pode ser. Mas existe sempre um limite psicológico incrível especialmente em jogos de campeonato.



Sempre se tem uma chance a mais quando se joga em casa. E aqui nós jogamos em casa e tem uma enorme nuvem de testemunhas, todos os nossos familiares mais velhos estão torcendo por nós, nos animando. Você pode ver nas mãos e nos pés destas pessoas que levantam as mãos, que nos animam e nos olham, feridas e cicatrizes, em seus rostos e em suas costas. Você sabe que eles participaram do jogo e estão nos chamando para fazer o mesmo.



E o maior e mais barulhento animador de todos é o próprio Jesus, o pioneiro e o aperfeiçoador de nossa fé, o primogênito entre muitos irmãos e irmãs, conforme nos conta Romanos 8. Todo um estádio está repleto com nossa família. E inspira ardor e coragem, vigor e sacrificio. E sabe o que mais? O autor de Hebreus jamais considera por um segundo sequer argumentar isto. Ele crê e ele pensa que devemos crer também, mas que devemos meditar a respeito e nos inspirarmos.



Agora se os santos não sabem o que nós estamos fazendo, e nós não temos idéia do que eles estão fazendo, ou seja, se não temos nenhum contato, nenhuma comunicação, este tipo de descrição é apenas uma metáfora simplesmente fraca e estranha. Mas não é este o caso. Esta é a realidade espiritual compreendida com os olhos da fé, os olhos que estão abertos para as verdades espirituais desta grande declaração do Credo: "Creio na comunhão dos Santos".



Agora não é só porque todos nós acreditamos na mesma coisa que temos este sentimento bom e real mas sobrenatural de que todos estamos unidos por este laço de confissão doutrinária e culto litúrgico. É muito mais do que isso. É mais do que somente ser um companheirismo de pessoas que pensam da mesma forma. Nós dizemos, "Eu creio no Espirito Santo", e é por isso que cremos na santa Igreja Católica, porque sem o Espirito Santo, nós só seríamos mais uma organização humana. Mas o Espirito Santo - ensina a Igreja - é a alma da Igreja. O Corpo Mistico de Cristo é animado e obtém vida sobrenatural do Espírito Santo. Assim dizemos, "Eu creio no Espirito Santo, na santa Igreja Católica - e o quê mais? - na comunhão dos Santos".



Agora como é que se pode ter comunhão com pessoas com as quais não se tem nenhuma comunicação? Como se pode possivelmente estar em comunhão com pessoas com as quais não partilhamos nada em comum juntos em termos de experiência diária? Eu não estou dizenho que Nosso Senhor nos tenha dito para termos conversações diárias. Certo, algumas pessoas são dotadas de revelações místicas. Mas sempre que alguém disser: "Bem, você está se comunicando com os mortos e isto é pecado julgado pelo Antigo e pelo Novo Testamento porque isto é divinização, isto é feitiçaria ou sei lá o quê", você responde: "Eles não estão mortos. Eles estão mais vivos do que nós. Benditos aqueles que morreram no Senhor". Por quê? Porque suas obras os acompanham ao céu. Os santos do Antigo Testamento tiveram que esperar pelo Messias, mas esta espera já passou. Aqueles santos martirizados estão com Nosso Senhor e com uma multidão, e eles torcem por nós. Nós não precisamos só olhar com fé, mas ouvir com fé.







A veneração dos santos não transgride a situação de Cristo nosso único mediador



Quero dizer mais uma coisa antes de continuar: eu quero que vocês saibam que os santos não são uma rota alternativa para se chegar até Deus. Se você pensa que sim, então pare de rezar para os santos até que você tenha sua vida espiritual reajustada de volta ao curso normal, porque você não é um bom católico. O fato é que existe um único mediador entre Deus e o homem, que é o homem Jesus Cristo. Paulo não poderia ter deixado isto mais claro em Timoteo. Ele diz: "Há um só mediador entre Deus e os homens, um homem, Cristo Jesus".



Vejamos o que diz Timoteo. 1 Tim 2, 5: "Há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, um homem, Cristo Jesus, que se deu em resgate por todos". Agora que conclusões podemos tirar disto? Podemos concluir falsamente que porque nós temos um mediador, logo estamos enfraquecendo o trabalho de Cristo ao pedirmos para os santos intercederem a nosso favor? Não, claro que não. Esqueça o fato de que os santos são cristãos que estão no céu, nós temos ciência do fato de que os cristãos da terra são constantemente chamados de santos no Novo Testamento. Isto é o que nós somos. Isto é o que nós devemos nos tornar, e se continuarmos em frente e nos mantermos firmes na fé, isto é o que seremos por toda eternidade. Mas somos santos se estivermos em Cristo.



Agora, católicos ou não, se alguém vos pedir para rezar por eles, para interceder por eles à Deus, vocês sairão por aí dizendo: "Como se atreve a debilitar a única mediação de Jesus Cristo, o único Sumo Sacerdote?". Claro que não. Por quê? Porque o que diz Paulo nos primeiros quatro versiculos anteriores a 1Tim 2, 5?: "Eu recomendo, pois antes de tudo, que se façam pedidos, orações, súplicas e ações de graças, por todos os homens". Só através de Jesus? Claro que não. Por nós, "pelos reis e todos os que detêm a autoridade, a fim de que levemos uma vida calma e serena, com toda piedade e dignidade. Eis o que é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, que quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. Pois há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens".



Eu costumava citar este texto fora do contexto e usava-o para minar a veneração devida aos santos que está enraizada em duas coisas: pedir-lhes por intercessão e súplica, e ser inspirado a seguir o exemplo deles. Nós podemos adicionar uma terceira que é, honrá-los. Nós os glorificamos quando nós os veneramos. E por quê? Porque nós ficamos entediados após dez ou quinze horas honrando a Cristo? Não. É precisamente porque nós honramos a Cristo. É precisamente porque nós imitamos Cristo. Nós imitamos Cristo, então se O vemos honrando aqueles que morreram pela verdade, aqueles que professaram a fé com muito sofrimento, nós fazemos aquilo que Cristo faz e glorificamos aqueles que Ele glorifica. Aqueles que Ele bendiz, nós bendizemos.



É bem simples. Só quando inconscientemente reduzimos a fé cristã a um relacionamento individualista - Jesus e eu - é que começa a se tornar uma coisa tipicamente americana auto-centrada. Quero dizer, encaremos: a familia americana não é um grande exemplo de laços fortes de comunicação atualmente. E tem sido assim por séculos. Você sabia que Daniel Boone era um dos piores pais? ... Grandes heróis americanos, fortes individualistas, não eram grandes homens de família. Você devia ouvir o que a mulher de John Adams tem a dizer - uma feminista radical... Ela não estava mais preocupada com o matrimônio, com a família, o lar e a América. Ela estava preocupada com os direitos do indivíduo que ela pudesse exercer e que outros pudessem exercer e, caso contrário, que eles pudessem conseguir a força. Este é o jeito americano.



Como se costumava dizer no século 18: "Não servimos a nenhum governante"; nenhum rei, e reis eram sempre figuras paternas. Eu não estou argumentando a favor de monarquia política e política natural porque o pecado humano é o que é. Mas nós temos uma monarquia sobrenatural, um reino celeste, uma figura paterna distante do pecado que concede sua vida e graça pura aos nossos irmãos e irmãs mais velhos, seus filhos. E este reino é o Reino do Céu. E isto nos inspira de uma forma muito maior a servir a nosso Soberano e a servir ao seu gabinete de ministros e príncipes e princesas que ele nos outorga.



Você percebe como é difícil para os americanos pensar e agir deste modo?2 Quando tudo em nossa cultura segue na direção contrária? A quem nos curvamos em nossa sociedade? Ninguém. E mesmo quando dizemos: "Your Honor" (=Vossa Excelência) para um juiz ou "Your Excellency" (=Vossa Eminência) para um arcebispo, parece uma coisa não natural, nos arrepiamos, não arrepiamos? Não é americano. "Quem você pensa que é?"



Mas o fato é que numa família, não é a pessoa tanto quanto o ofício que nós veneramos e honramos. E é isto que fazemos quando nós veneramos os santos. Nós estamos imitando Cristo que os honra. Por nossa vez, nós queremos imitar os santos no serviço à Cristo.



"We Are Family" (=Somos uma família) - constumava cantar o grupo Sister Sledge muitos anos atrás (final dos anos 70). Nós somos a família de Deus. Nenhum pai vai se sentir traído ou ignorado ou rejeitado quando os irmãos e irmãs se amam e inspiram uns aos outros no sacrifício e serviço corajoso pelo nome da família. É até mesmo bobo quando se coloca desta forma, mas que outros termos bastariam para o que a Santíssima Trintada, a Família Divina, têem feito por toda a história? É a única forma que faz sentido. É a única forma que engloba toda a Biblia. É a única razão pela qual Paulo em 1Tim 2, 5 considera um mediador e ainda diz o que diz em 1Tim 2, 1-4: "Pois, porque há um só mediador, nós podemos fazer orações, súplicas e pedidos com uma confiança maior, por todos os homens", até mesmo para os reis, para os ricos e prósperos, e para os corruptos. Por quê? Porque só há um mediador, o Homem-Deus, Jesus Cristo.

Poderíamos enlouquecer fazendo orações como jamais tínhamos feito antes. Por quê? Porque só há um mediador. Será que isto significa que não haja outros intercessores, outros a quem fazer súplicas? Não! Claro que não. Só há um mediador e porque nosso mediador é o mais fabuloso que nós podemos imaginar, nós temos agora a capacidade de interceder como sacerdotes no Sacerdote, como filhos no Filho, como pastores no único Pastor. Nós obtemos vida Dele. "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Longe de Cristo nada posso fazer". Mas comigo, diz Jesus, você pode tudo. "Para Deus tudo é possivel".







Apoio bíblico para o fato de que Deus ouve os clamores dos santos



Precisamos ajustar nosso pensamento. Isto não é novo. Desde o Genesis, existe um tipo de alusão misteriosa ao fato de que Deus está em contato com as necessidades dos mártires. Em Gen 4, 10, Deus diz a Caim: "Ouço o sangue de seu irmão, do solo, clamar para mim!" Agora, você acha que se você saisse no campo e encontrasse o lugar onde todo aquele sangue foi derramado, colocasse seus ouvidos no chão, você ouviria uma voz? Não, eu acho que não. Não, isso é um dispositivo literário. O sangue de Abel é a alma de Abel que tinha acabado de morrer. Ela não estaria clamando por coisa alguma a não ser que Abel tenha sido justificado por Deus de alguma maneira. De alguma maneira que nós desconhemos, pode ser o seio de Abraão, como nós vemos em Lucas 16, 23.



Deus ouve, a qualquer preço, o clamor daqueles santos martirizados desde o princípio. O sangue é a vida, a vida é a alma e a alma clama por vingança e Deus responde. É por isso que Hebreus 12, 24 refere-se a isto comparando o sangue de Abel clamando por vingança ao sangue jorrado de Jesus que fala mais eloquentemente do que o de Abel. Agora, falaria o sangue de Jesus conosco? Bem, de certa forma, não. Não é o sangue, mas a vida da alma representada pelo sangue que está falando "misericordia, misericordia, misericordia" em nosso favor. Não vingança, mas perdão, porque Cristo não foi morto por um irmão no meio do campo contra a sua vontade. Cristo entregou Sua própria vida como resgate de todos. Assim, o Seu sangue fala da mesma forma que o sangue de Abel, mas ele fala de uma maneira maior e mais eloqüente.



Agora eu gostaria de sugerir que o tipo de pregação que encontramos em Lucas 16 não teria vindo dos lábios de Jesus se este ponto de vista não fosse comum. Vejamos Lucas 16, 19-31. Ali, é claro, nós encontramos a famosa estória de Lázaro e o homem rico. Ela nos diz que Lázaro era bastante pobre, e que os cães lambiam suas feridas quando ele se sentava na porta do rico; ao morrer foi carregado ao seio de Abraão. O outro homem, o rico, foi carregado em meio a tormentos, à mansão dos mortos. Ele exclamou: "Pai Abraão, tem piedade de mim". Isto não é exatamente o clamor da alma desprezível, condenável, endemoniada cuja maldade e pecado são só aperfeiçoados. "Tem piedade de mim, Pai": ele sabe que pertence àquele lugar, mas agora ele não pede por justiça, mas por misericórdia. Ele não está dizendo: "Me tira daqui, este não é o meu lugar. Me tira daqui. Eu tenho que voltar. Eu mereço uma segunda chance".



Ele diz: "Manda que Lázaro molhe a ponta do dedo para me refrescar a língua, pois sou torturado nesta chama". É por isso que eu sugiro que isto pode muito bem se referir, não ao fogo do inferno e ao tormento eterno, mas ao fogo do purgatório da alma que por negligência das obras corporais de misericórdia termina no curso de verão por um longo tempo3. Ele exclama: "Pai Abraão, tem piedade de mim". E Abraão responde: "Filho"; ele não diz: "seu condenado maldito", "filho de Satanás", "verme desprezível", "sua víbora". Não, "Filho", é o que Abraão responde. "Lembra-te de que recebestes teus bens durante tua vida". E o homem não diz: "O que você quer dizer com, 'lembra-te'?". Quando a alma morre, ela não se lembra de nada. Ela não se lembra de ninguém. Mas ele se lembra do que Abraão estava falando; ele se lembra.



E continuando no versículo 27: "Pai, eu te suplico, envia então Lázaro até à casa de meu pai". Ele se lembra da casa de seu pai! "... pois tenho cinco irmãos". Ele não somente se lembra que tem cinco irmãos; ele está bastante preocupado com eles. Ele está intercedendo em favor dos cinco irmãos, "para que (Lázaro) leve a eles seu testemunho, para que não venham eles também para este lugar de tormento". Ele não diz: "Abraão, você pode dar uma amostra aos meus irmãos do meu destino torturante aqui nas chamas?" Ele diz: "Você ressuscitará Lázaro. Você o mandará de volta dos mortos?" Que pequeno favor a se pedir da parte de Lázaro! Certamente seria uma justificação para o pobre homem, não seria?



Mas Abraão diz: "Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam". E ele responde: "Não, pai Abraão, mas se alguém dentre os mortos for procurá-los, eles se arrependerão". E Abraão responde: "Se não escutam nem a Moisés nem aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão". Fim da estória. Agora, você pode dizer: "Então, eles podem fazer orações no purgatório, mas elas não são atendidas". Mas observe uma coisa. Jesus ressuscitou um homem chamado Lázaro depois de quatro dias. Esta pode ser uma parábola, mas Jesus não disse "Deixe-me contar-lhes uma parábola". Não existe nenhuma evidência de que seja uma parábola. Você pode não querer acreditar, mas em nenhum lugar, em nenhuma parábola de Jesus ele dá nome aos personagens.



Aqui Ele dá nome ao homem e Ele dá a ele o nome de um de Seus melhores amigos, Seu único amigo que ele ressuscitou dos mortos. Um homem que estava doente - que coincidência! Talvez sim, talvez não. Mas eu gostaria de sugerir que, se um homem em tormento pode se comunicar de acordo com suas próprias necessidades, quanto pode Lázaro ajudar? Em outras palavras, aqui nós temos uma situação onde o homem pode comunicar-se e interceder por aqueles que ele quer ajudar.



Agora, se um homem nas chamas pode fazer isso, o quanto podemos presumir que Lázaro tem uma lembrança clara de sua amada família na terra e que ele provavelmente tem uma percepção clara das suas necessidades? E com um amor perfeito, ele teria uma capacidade maior de interceder por estas necessidades. Talvez você negue isto, mas que passagem da Escritura você mostra para negar isto? Eu não consegui encontrar nenhuma quando eu pensava assim também.







Os católicos precisam ter uma percepção balanceada sobre o que significa a veneração dos santos



Continuando... Antes de olhar em algumas passagens, deixe-me perguntar, e pense a respeito disto quando você estiver conversando com não-católicos: porque eu devo confessar e me desculpar por todas as vezes que meus irmãos e irmãs não-católicos, apesar de separados, mas irmãos e irmãs pelo batismo, eu tenho que me desculpar porque eles ficam sabendo de muitos católicos que fazem coisas estranhas, como um ex-católico cuja mãe tem uma imagem de Maria em tamanho natural que ela veste e desveste todo dia. Ela não tem nenhuma vida de oração. Ela nunca lê a Bíblia, mas ela constantemente veste e desveste sua imagem.



Agora, eu não vou fazer nenhum julgamento final sobre este comportamento, mas vou dizer que se isto é tudo o que você tem, está desforme. E com frequência católicos não só não tem uma percepção equilibrada do que é a veneração dos santos com relação a Cristo como eles têem pouca capacidade de articular o que eles realmente estão fazendo caso tenham um percepção equilibrada. Por que eles de fato fazem isto?



Diga a um não-católico: "Você tem família? Você os ama? Você carrega as fotos deles na sua carteira? Estas imagens são ídolos?" - "Bem," - eles podem dizer - "eles não são estátuas. Eles não são pinturas. Eu não as beijo". Bom, mas, fotografia é uma tecnologia moderna que faz com seja mais fácil e móvel, você sabe, de tal maneira que se pode ter na carteira as imagens de uma família; mas o meu ponto é que ninguém cultua a foto. Explique desta maneira. Você não adora a foto. Você nem mesmo a glorifica. Percebe? Nós não glorificamos estátuas. Nós não veneramos pinturas ou ícones. Nós glorificamos e veneramos as pessoas reais que estão representadas pelas estátuas, pinturas e ícones.



Bem, mas eles estão mortos! Não, eles estão mortos em Cristo e portanto estão vivos e são benditos. Apocalipse 14 nos conta que eles são benditos se eles morrem em Cristo. Jesus prometeu a Pedro as chaves do Reino que tem poder sobre os portões do Inferno. Assim, a Igreja pode exercer esta jurisdição não somente em liberando as almas pelos méritos que Cristo derrama em seu Corpo Místico mas também reconhecendo e pronunciando oficialmente o fato de que estas almas morreram em Cristo e que podem ser veneradas, e que elas são beatificadas porque são abençoadas por Cristo.



Católicos não adoram estátuas e pinturas e ícones. A estátua é somente um pedaço de gesso ou mármore, se for realmente boa. Elas são apenas dispositivos artísticos, úteis para nos relembrar da pessoa, o acontecimento, a ocasião representada; para nos conectar em comunhão, para nos inspirar pelo seus exemplos. Assim sendo, a Escritura ensina que não há comunhão entre os santos que estão em Cristo no céu e os santos que estão em Cristo aqui na terra? Ou melhor, a doce comunhão mística que nós temos com aqueles que descansam é uma comunhão real? Claro que é. A Escritura ensina que depois da morte os santos perdem toda a memória da vida terrena, das relações e necessidades terrenas, ensina que eles perdem o interesse e a preocupação? Que eles estão tão em êxtase e focalizados em Cristo que eles nem mesmo se enxergam? A Escritura não ensina isso. A Escritura não ensina que eles perdem toda a capacidade de fazer orações, de interceder e de suplicar por nós.







Arqueólogos têm evidências sobre a Veneração dos Santos no Primeiro Século



A Escritura nos mostra que os santos se recordam de suas vidas aqui na terra e fazem orações por aqueles com os quais eles viveram? Os santos nos cercam como membros de uma família numa multidão como vimos em Hebreus 12. Eu vou apenas mencionar o fato de que inscrições nas catacumbas do primeiro século encontradas por arqueólogos neste século, que datam desde o tempo da segunda e terceira geração depois de Cristo e dos apóstolos, dão um testemunho claro deste costume antigo de venerar e pedir a intercessão dos santos. Uma inscrição diz "Pedro e Paulo, rogai por Victor". Uma outra: "Pedro e Paulo, lembrai-vos de Zozamon". Existem várias outras iguais a estas. Elas não são estranhas. Elas não são esquisitas. Elas são típicas.







A Escritura mostra que os Santos se lembram de suas vidas na terra e fazem orações por aqueles com os quais eles viveram



Observe no livro do Apocalipse que existem três classes de santos que são destacados como tendo um papel especial no rito celestial. Primeiro de todos, os mártires com vestes brancas. Segundo, as virgens e terceiro, os confessores. Por exemplo, em Apocalipse 6, 11, começando no versículo 9: "Quando abriu o quinto selo, vi sob o altar as vidas dos que tinham sido imolados por causa da Palavra de Deus e do testemunho que dela tinham prestado. E eles clamaram em alta voz: 'Até quando, ó Senhor santo e verdadeiro, tardarás a fazer justiça, vingando nosso sangue contra os habitantes da terra?'". Eles estão pedindo por justiça. Eles têm comunhão com Deus. Eles estão defendendo a causa do Corpo Místico de Cristo.



"A cada um deles foi dada, então, uma veste branca e foi-lhes dito, também, que repousassem por mais um pouco de tempo, até que se completasse o número dos seus companheiros e irmãos, que iriam ser mortos como eles". Em outras palavras, foi lhes dito sobre o que estava acontecendo, na terra. Não só sobre o que estava acontecendo naquele momento, mas o que iria acontecer no futuro. Isto é, vocês serão justificados em pouco tempo mas mais martírios precisam primeiro acontecer. Pelo menos eles tem algum tipo de consciência geral de que existe um pequeno período de tempo no qual mais mártires serão reunidos e então no fim desde pequeno período de tempo, a justificação virá. Eles têm conhecimento. Eles têm preocupação. Eles têm a capacidade de interceder e eles também têm um conhecimento maior do que o povo na terra e este conhecimento vem de Deus. Por quê? Porque eles são benditos. Apocalipse 22, 14 nos conta isso.



No final do Apocalipse esta beatitude é pronunciado sobre eles: "Felizes os que lavam suas vestes". O que quer dizer "lavam suas vestes"? Em outras palavras, eles tiveram tempo para ir até a lavanderia antes que Deus os chamasse? Claro que não. "Felizes os que lavam suas vestes", se refere a Apocalipse 7, 13. Eu sei que eu estou fazendo vocês folhearem a Bíblia pra frente e pra trás. Mas os cristãos não-católicos realmente conhecem a Bíblia deles. Nós temos que aprender a nossa.



Apocalipse 7, 13: "Um dos Anciãos tomou a palavra e disse-me: 'Estes que estão trajados com vestes brancas, quem são e de onde vieram?' Eu lhe respondi: 'Meu Senhor, és tu quem o sabe!' Ele, então, me explicou: 'Estes são os que vêm da grande tribulação: lavaram suas vestes e alvejaram-nas no sangue do Cordeiro. É por isso que estão diante do trono de Deus, servindo-o dia e noite em seu templo". Por isso, nós sabemos que existe um serviço litúrgico no templo celestial. O nosso é apenas uma reflexão pálida que mal se compara com o serviço litúrgico que acontece lá e este pessoal todo serve dia e noite no templo celestial.



Mas eles não têm permissão para fazer orações por nós, certo? Dá um tempo! Deus vai ficar zangado? Vai ficar ofendido? Claro que eles fazem orações por nós! Como é que eles servem? Veja no capítulo 8, 3: "Outro Anjo veio postar-se junto ao altar, com um turíbulo de ouro. Deram-lhe uma grande quantidade de incenso para que o oferecesse com as orações de todos os santos, sobre o altar de outro que está diante do trono".



Os santos de quem se fala aqui devem ser interpretados contextualmente como sendo os santos que foram martirizados e que agora servem no céu. Agora, nós podemos ter uma aplicação secundária que incluiria, é claro, também os santos terrestres; mas contextualmente aqui se fala dos anjos celestes. E o que eles estão fazendo? Rezando. E estas orações são oferecidas com incenso pelo anjo no altar de Deus, no altar de ouro que está diante do trono, que estava bem em frente ao Santo dos Santos no templo terrestre como no templo celeste. "E da mão do Anjo, a fumaça do incenso com as orações dos santos subiu diante de Deus".



E o que acontece? Deus em resposta às orações dos santos age. Ele chama os sacerdotes celestes para que peguem suas trombetas e se preparem para tocar. Isto desencadeia as sete trombetas que por sua vez desencadeiam todo tipo de ativitidade terrestre que justifica os santos e vinga seu sangue e derruba os orgulhos e presunçosos diante de Deus. Você percebe o poder do serviço litúrgico? As pessoas dizem: "Bem, é preciso se envolver". Eu digo: "Exatamente, precisamos nos envolver. Precisamos fazer realmente as coisas que mudariam as injustiças da terra a começar com um bom serviço litúrgico". Porque se você ler o Apocalipse e entender a mensagem, você vai ver que existe uma coisa acima de todas as outras que muda as más coisas. E é adorando a Deus com todo o seu coração, mente, alma e força.



Isto libera todas as coisas que o povo na terra necessita de Deus em resposta às orações dos santos. Não se discute. Não se debate. Não é demonstrado logicamente. É assumido e descrito graficamente. E o que nós rezamos? "Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu". Nosso serviço litúrgico é uma imitação do serviço celete. Nossa intercessão é uma imitação da intercessão deles. Mas como podemos fazer isso se não temos nenhuma idéia do que eles estão fazendo e eles não têm nenhuma idéia do que nós estamos fazendo? Isto não é comunhão e isto também não é o que o Apocalipse descreve.



Volte um pouquinho na Bíblia. Você pode ver isso no Apocalipse 5, 8: "...os vinte e quatro Anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, cada um com uma cítara e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos, cantando um cântico novo". Eles não só tocam instrumentos, mas eles cantam cânticos e eles dão louvores ao Cordeiro. Depois eles fazem orações para as pessoas que estão em necessidade. E o que faz Cristo depois de suas orações? Ele por acaso diz: "Hei pessoal, as minhas orações não são o suficiente? O fato de eu ser o Sumo Sacerdote não é o suficiente para todas as necessidades do meu povo na terra como no céu? Acabem logo com isso e relaxem"?



Não, ele não disse isso. O que ele faz? Versículo 10: "Deles fizeste, para nosso Deus, uma Realeza e Sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra". O reinado deles se estende do céu para a terra. Cristo fez deles um reino de sacerdotes. Em outras palavras, o que Deus ofereceu no Monte Sinai, Exodo 19, 6 e que eles se recusaram e que depois Deus continuamente oferece através de Davi e Salomão, e eles recusam; Deus oferece através de Jesus e dos Apóstolos e Jesus aceita e estabelece, portanto, uma nova aliança baseada nesta aceitação. E através de seu poder, ele faz o que Adão, Noé, Abraão, Moisés e Davi juntos multiplicado por 100, jamais puderam fazer - um reino de sacerdotes, se recebermos na fé e cooperarmos com esta graça.



Nós somos um reino de sacerdotes. Isto enfraquece nosso Rei? Isto tira a autoridade sacerdotal de Jesus? Não. Isto manifesta-a. Como luz pura batendo num prisma mostra a beleza intrínsica oculta desta luz conforme os raios são refratados, você vê o que existe o tempo todo na luz mas não podia ver antes que fosse refratada no prisma. Esta é a beleza de Cristo, refratado pelos seus santos e suas orações de intercessão. E eles cantam a canção sobre o Cordeiro e ele falam sobre como ele recebeu o poder e a riqueza e a sabedoria e a força e a honra e a glória e o louvor. Mas o que faz Cristo com tudo isso? Ele se volta e dá isto à nós.



Eles têm tronos e coroas e o que eles fazem? Eles prostam suas coroas. Cristo as pega e as devolve a eles e diz: "Sentem-se nos tronos. Vocês são meus sacerdotes. Vocês são meus reis..." Pode-se ver isto no capítulo 4, 4: "vinte e quatro tonos, e neles assentavam-se vinte e quatro Anciãos, vestidos de branco e com coroas de ouro sobre a cabeça". Por que isso? Por que Cristo não é o suficiente? Não. Por que Cristo está longe? Claro que não. Pelo contrário, é porque estes santos confiam que a graça de Cristo é suficiente, a mesma graça que eles agora possuem como santos martirizados glorificados no céu.



Apocalipse 14, 13 diz tudo: "Ouvi então uma voz do céu, dizendo: 'Escreve: felizes os mortos, os que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, que descansem de suas fadigas, pois suas obras os acompanham.'". Agora, nós não adoramos os santos benditos que foram martirizados e elevados e glorificados no céu. Nós não os adoramos. Na verdade, Apocalipse 19, 10 nos diz para não os adorarmos - onde o anjo aparece para João e João se prostra e o que ele diz? "Caí então a seus pés para adorá-lo, mas ele me disse: 'Não! Não o faças! Sou servo como tu e como teus irmãos que têm o testemunho de Jesus.'" Preste atenção, ouça: "É a Deus que deves adorar!" Este é o único que adoramos. E então o que fazemos? Porque nós adoramos a Deus e porque nós tentamos imitá-Lo, nós louvamos aqueles que Ele louvou. Nós honramos aqueles que Ele honra. É assim que funciona a aliança. Esta foi sempre a forma da aliança, como veremos.







Três Classes de Santos



Por todo o Apocalipse existem três classes de santos: os mártires, as virgens e os confessores, que são consistentemente mostrados como exemplo para nós. Por exemplo, Apocalipse 14, 4. No versículo 1 deste capítulo nos é dito sobre o número 144.000. As doze tribos de Israel todas doam 12.000 santos. Que tipo de santos? Nos é dito que eles cantam um cântico novo diante do trono do Cordeiro. É um cântico que ninguém podia aprender a não ser os 144.000 que foram resgatados da terra. Eu acho que deve ter sido um cântico judaico. Só os Judeus das 12 tribos de Israel é que podem cantar.



"Estes são os que não se contaminaram com mulheres pois são castos", diz a minha bíblia não-católica e nas notas de rodapé diz, "Grego: virgens". Então por que não traduzir usando "virgens"? O que são eles? Nós ousamos não dizer esta palavra muito alto, com muita frequência em nossa sociedade. Por quê? O intercurso sexual é errado? De forma alguma. É o que consuma a aliança matrimonial. É o que faz o sacramento legalmente indissolúvel. É o que traz uma nova vida, e nos tornamos co-criadores com Deus pela graça de Cristo. O intercurso é mal? Não, é bom. O casamento é mal? Não, é sagrado. É um sacramento na Igreja Católica. Ele confere a graça de Cristo ex opere operato.



Mas Deus reserva bençãos especiais para aqueles que renunciam bens terrenos que são muito bons por bens celestiais ainda melhores. 1 Corintios 7, 32: São Paulo diz, "Eu quisera que estivésseis isentos de preocupações. Quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor e do modo de agradar ao Senhor. Quem tem esposa, cuida das coisas do mundo e do modo de agradar à esposa, e fica dividido. Da mesma forma, a mulher não casada e a virgem cuidam das coisas do Senhor, a fim de serem santas de corpo e de espírito. Mas a mulher casada cuida das coisas do mundo; procura como agradar ao marido". Todas as pessoas casadas digam: "Amém".



Isto significa que não podemos servir o Senhor? Claro que não. Nós podemos servir o Senhor mas nós também temos que cuidar das coisas do mundo, temporárias e passageiras. Tudo bem. Deus usará estas coisas como meios de graça. Mas elas não são permanentes e nossas famílias aqui não são permanentes porque elas estão ligadas pelos laços da carne e sangue de Adão que terão que morrer e ressuscitar em Cristo e serem membros da família da Nova Aliança.



Isto significa que a familia é algo ruim? Não, é sagrada. Nós devemos ser sacerdotes em nossa igreja doméstica. Pais, abençoem seus filhos à noite antes deles dormirem. Cantem canções na mesa de jantar. Façam orações, eu desafio vocês a fazerem orações espontâneas de vez em quando. Isto não é um monopolio protestante. Nós podemos fazer orações tiradas de nosso coração de filhos de Deus e devemos fazê-las.



Mas São Paulo, o inspirado apostolo sem erros, está comunicando aqui o que Deus quer comunicar porque o Espírito Santo é o autor principal até mesmo destas palavras. "Digo-vos isto em vosso próprio interesse, não para vos armar cilada". Nos é permitido o casamento e ele é glorioso. "Mas para que façais o que é mais nobre e possais permanecer junto ao Senhor sem distração". E depois no versículo 38: "Portanto, procede bem aquele que casa a sua virgem; e aquele que não a casa, procede melhor ainda".



Um bom amigo meu, ex-católico e agora anti-católico me disse: "Bem, Paulo não quer dizer para a vida toda". Eu disse: "Ok, me mostra onde é que este caso se aplica". Nós olhamos e procuramos e olhamos de novo em vão. Então eu disse: "Sabe, quando se olha novamente em Apocalipse 14, 4, aqueles 144.000 virgens não eram virgens temporários. Deus faz de nós todos virgens temporários e faz de alguns virgens permanentes, mas no casamento todos nós devemos ser virgens, certo?" Não, isto não é o que a Biblia está dizendo. Nós colocamos palavras na boca de Cristo e na boca de São Paulo? Estas pessoas morreram virgens. Agora se alguém dissesse. "Bem, na Israel antiga não havia nenhuma tradição costumeira que exaltasse a virgindade". É muito triste dizer que entre os Fariseus isto é verdadeiro. Não havia tal costume. Mas você teria que pelo menos negar o que é obvio e evidente nos Manuscritos do Mar Morto e na comunidade dos Essênios de Qumram, porque eles louvavam a virgindade. Agora, se você for casado, você também pode ser um membro santo da comunidade. Flavius Josephus e Philo e outros Judeus, apesar de não serem Essênios; eles podem ter sido Fariseus, Saduceus, Zelotas; ainda assim, todos os outros grupos de Judeus sabiam que os Essênios eram os mais justos e santos.



Eram eles que louvavam a virgindade. Isto não é novidade. Maria se refere implicitamente a esta promessa de virgindade, quando ela diz: "Como é que vai ser isso, se eu eu não conheço homem algum?" O anjo poderia ter dito simplesmente: "Em alguns meses quando você se casar, vocês farão amor e vocês terão um filho". Quero dizer, ela não conhecia fatos básicos de anatomia e biologia? Como sempre disseram os primeiros Pais da Igreja, implícito naquele texto, o único sentido para ela não estar dizendo algo insensato, é ela, como os Essênios, estar entrando no casamento com um reconhecimento total da glória e santidade do matrimônio e do amor matrimonial, amor físico e sexual, mas com uma benção superior ainda maior se Deus conferisse a graça de viver virginalmente no casamento.



E é sobre isto que São Paulo fala em Corintios 7 quando ele diz: "Se seu ardor por sua noiva é muito grande" - literalmente a tradução seria "se seu ardor pela sua virgem". Algumas traduções dizem que é filha, outras que é noiva, será que é a irmã ou o quê, afinal? Bem, São Paulo estava dizendo algo que ele supõe que os cristãos de Corinto entendem claramente. E desde o começo as pessoas imitavam Maria e José, e até antes de Maria e José este costume era encontrado no judaismo entre os mais santos. Deve ser uma pílula dura de engolir para os americanos porque nós gostamos de fazer sexo de todas as maneiras diferentes possíveis. Esta é a melhor maneira de vender livros e filmes e o que quer que seja. Além do que sexo não é ruim mas é bom.



Sexo no matrimônio é sagrado. É o meio pelo qual a vida natural é co-criada com Deus. Mas existe algo ainda maior. Nós temos que fazer orações por nossos padres e religiosos, irmãos e irmãs. Eu não estou certo de que tenha existido uma cultura que tenha tão seriamente colocado-os à prova e em tentação. Nós temos que fazer orações para que eles, também, possam de alguma forma se unir aos 144.000 e nós também nos juntaremos a eles, porque junto com os 144.000, existem aqueles que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro, uma grande multidão que nenhum homem pode contar. E eles cantam e adoram o Cordeiro. Eles são sacerdotes e reis. Deus não mostra parcialidade. São Paulo diz a Timoteo: "Se com Cristo sofres, com Ele reinarás". Se sofreres. E são estes que vemos reinando com Cristo no Livro no Apocalipse.



É por isso que na Ladainha de Loretto, por exemplo, temos Nossa Senhora com que títulos? Rainha dos mártires, Rainha das virgens e Rainha dos confessores e depois, Rainha dos santos, rogai por nós. Isto é tirado do Apocalipse. Nós também podemos ver em Apocalipse 20, 4-6, a mesma idéia. "Feliz e santo aquele que foi martirizado. Eles estão sentados nos tronos celestes". O que mais? "Vi então tronos, e aos que neles se sentaram foi dado o poder de julgar".



Jesus Cristo é o verdadeiro juiz. Ele está sentado no grande trono branco que é descrito em Apocalipse 20, 11. Mas então Ele tem tronos auxiliares. Por quê? Porque Ele dá a eles o poder de julgar. São Paulo diz aos Corintios: "Não sabeis que julgaremos os anjos?" Eles estão sentado nos tronos com o poder divino de julgar confiado a eles. Eles executam o julgamento de Cristo para Sua glória; por Cristo, em Cristo e com Cristo.



Então deixem que eles julguem. Deixem que eles passem a sentença. Deixem que eles descubram que coisas precisam de julgamento. Deixem que eles saibam. Façam orações a eles e peçam pela intercessão deles no único mediador porque eles são os sacerdotes de Deus e de Cristo que nos é dito neste texto no versículo 6: "Eles serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e com ele reinarão". Amém. Obrigado Jesus. Por quê? Porque o sacerdócio de Cristo não é o suficiente? Não, porque Cristo é um doador generoso e Ele dá uma participação a todos nós que cooperamos com esta graça.







Sugestões para conversas com não-católicos



Eu devo-lhes dizer que sempre que conversarem com não-católicos ou até mesmo alguns católicos confusos ou ex-católicos, vocês têm que alicerçar isto em Cristo. Vocês têm que colocar as raízes disso tudo em Cristo. É a vida Dele, é a graça Dele, é a santificacão Dele e na Sua beatitude que participamos. A razão pela qual os mortos são benditos em 14, 13, a razão pela qual os martires são benditos em 22, 14 é porque eles estão em Cristo; mas eles são benditos.



Quando Cristo vos abençoa, garantido o resto, você está abençoado! E é por isso que Nossa Senhora pode dizer em Lucas 1, 48: "Doravante as gerações todas me chamarão de bem-aventurada". Nós só estamos demonstrando que ela está certa e que tudo o que fazemos é nos juntar aos anjos porque, o que disseram os anjos? "Ave, cheia de graça, bendita és tu entre as mulheres". E quando clamamos a mãe de Deus, é praticamente o que Isabel diz: "A mãe do meu Senhor me visita".



Então por que o rosário é tão ofensivo? A primeira parte nada mais é do que a Escritura: "Ave-Maria, cheia de graça. O Senhor é convosco. Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de vosso ventre, Jesus. Santa Maria," (porque Cristo a fez santa) "Mãe de Deus," (Isabel declarou que ela era mãe do Senhor,) "rogai por nós, pecadores," (o que estamos confessando? Estamos confessando nossa própria corrupção; quero dizer, a doutrina do pecado) "Rogai por nós, pecadores," (agora porque somos fracos e dependentes) "e na hora de nossa morte,"

(quando formos para a presença de Deus). Veja toda a boa teologia que existe aí.



Nós temos a doutrina do pecado. Temos a doutrina da salvação. Temos a doutrina da graça. Temos até mesmo a escatologia, a "hora de nossa morte". Quero dizer, raramente se encontra um parágrafo num livro de teologia que tenha tanta doutrina e passagens corretas. E tudo o que estamos fazendo é ecoar o anjo e tudo o que ele estava fazendo era ecoar Jesus porque tudo o que ele é, é um mensageiro de Deus, com a mensagem de Deus.



Nós bendizemos Deus que é bendito acima de todos e depois bendizemos aqueles que ele bendiz porque esta é a natureza da aliança. Sempre foi. Genesis 27,29 fala sobre a benção de Israel: "Que os povos te sirvam, que nações se prostrem diante de ti! Sê um senhor para teus irmãos, que se prostrem diante de ti os filhos de tua mãe! Maldito seja quem te amaldiçoar! Bendito seja quem te abençoar!" - esta foi a benção de Isaac sobre Israel.



É isto que fazemos ao venerar os santos. Nós bendizemos aqueles que Deus abençoou. "Bendito seja quem te abençoar". É esta a natureza da aliança nos Tempos Antigos e as bençãos não enfraquecem a Nova Aliança. Pelo contrário. Assim, se você é abençoado quando abençoa aqueles que Deus abençoou no passado, quanto mais você será quando bendizer aqueles que Deus abençoou em Cristo? É por fim a benção de Cristo.



Nós não fazemos orações para os santos ao invés de para Cristo. Nós rezamos através dos santos à Deus em Cristo. Mas você pode dizer isso de várias maneiras ou você pode ter significados secundários que podem estar corretos, mas por fim, os santos não atendem nossas orações. Eles ecoam nossas orações com profundidade, discernimento e amor maiores. "A oração fervorosa do justo tem grande poder!" Isto não é encontrado somente no Novo Testamento, mas é basicamente testemunhado por toda a Escritura. Não só os justos da terra mas os justos em geral, onde quer que estejam. Eles podem fazer orações e elas tem grande poder.



A palavra alemã para benção é "segnum". Ela é na verdade derivada do latim "signare", que quer dizer "fazer o sinal da cruz". A cruz é a fonte de todas as bençãos. Nós não tiramos o mérito da cruz quando bendizemos os santos que Cristo abençoa. Nós sustentamos a cruz. Nós exemplificamos a cruz. Exemplificamos a obra de Cristo. 2 Timoteo 2, 11-12: "Se com ele morremos, com ele viveremos. Se com ele sofremos, com ele reinaremos".



Nós imitamos Cristo. É este o chamado do cristão. Nós honramos aqueles que Cristo honra e da mesma forma. Este é a primeira e talvez a razão mais fundamental mas em segundo lugar, nós desejamos seguir o exemplo heróico deles ao imitarem Cristo. Eu sei, pois tenho visto muitas famílias onde se o primeiro filho é bom, os outros podem seguir seu exemplo. Eu sei por experiência própria que se o primeiro filho extravia, as chances são muito maiores de que os outros se extraviem, como aconteceu comigo. Graças a Deus, ele nos alcança não importa onde estamos ou quem somos ou o que fazemos, mas o fato é que os exemplos, especialmente os exemplos heróicos ajudam bastante.



Tudo o que fazemos é celebrar a obra de Cristo, as obras-primas de Cristo, especialmente quando se trata da Santíssima Virgem Maria. Adore a Deus e somente a Deus, mas venere, honre, bendiga aqueles que ele honra e aqueles que ele bendiz. Só estamos imitando Cristo e estamos somente nos ajudando e ajudando a outros a seguirem o exemplo heróico de Sua virtude e de Seu sacrifício.







Conclusão



Antes que eu termine, eu quero tirar uma espécie de tangente final. Talvez eu devesse tê-la feito ontem, mas eu falei bastante sobre Maria tanto hoje de manhã como ontem. Eu focalizei em Nossa Senhora ontem, então você pode pensar que eu não devesse focalizar nela nesta manhã, mas eu gosto de focalizar nela todo dia. Em particular existe uma questão que já surgiu, pelo menos implicitamente. Nós falamos sobre ela e a Igreja ensina a dulia, a veneração e a honra aos santos, mas para aquela que é a Rainha de todos os santos, devemos a hiperdulia, que não é a mesma coisa que latria, que é adoração.



Eles são finitos. Eles são criaturas. Eles estariam perdidos e mortos no pecado se não fosse pela graça de Cristo. Só Deus é infinito, eterno. Só Ele possui auto-existência. Eles têm existência. Ele é a própria existência. Jamais nos esqueçamos disto. Ajudemos outros perceberem a que jamais nos esquecemos disto e que deixamos esta distinção bem clara. E façamos de nossa adoração a Deus o melhor possível para que nossa dulia seja distinta de nossa latria.



Mas e sobre a virgindade perpétua de Maria? Nós falamos sobre Maria e hiperdulia. Falamos sobre a virtude da virgindade. Por que existe a doutrina da virgindade perpétua? Por que isto é definido "de fide" (=de fé) como algo que os católicos devem crer estar de acordo com a Igreja? Bem, por uma razão porque é verdade. Segundo, porque a Igreja sempre aceitou isto e a Igreja sempre ensinou isto. O Credo de Santo Epifanio, em 374, afirma: "Maria, sempre virgem". O Segundo Concílio de Constantinopla em 553 bem como o Concílio de Latrão em 649, também afirma: "Maria, sempre virgem". Santo Agostinho sempre insistiu nisso. Junto com Santo Agostinho, S, Jerônimo escreveu um livro sobre a Virgindade Perpétua da Santissima Virgem Maria em resposta a Helvidio, que em 380 foi a primeira pessoa nos registros verdadeiramente a negar a virgindade perpétua de Maria e a sugerir que os irmãos de Jesus eram irmãos de sangue e filhos de Maria.



S. Jeronimo nem mesmo queria escrever o livro. Ele achava Helvidio bastante esquisito. Ele disse, "isto é uma novidade maldosa e uma afronta ousada para a fé de todo o mundo". Lutero acreditava nela. Calvino afirmou-a e Zwinglio, todos eles, falaram de "Maria, sempre virgem" em seus escritos. Bem, então como é que se lida com as passagens bíblicas?



Façamos isto apenas brevemente. A irmandade de Cristo é provavelmente o maior obstáculo. Mateus 1, 25: "Mas não a conheceu até o dia em que ela deu à luz um filho". Eu já disse que a palavra "até" pode ser conjuntiva. O que eu quero dizer é que "até" nem sempre significa algo como: "Ela era virgem até depois de dar a luz um filho e depois ela deixou de ser virgem". Nem sempre significa isso. Por exemplo, 2Samuel 6, 23: "E Micol, filha de Saul, não teve filhos até o dia de sua morte"; obviamente não significa que ela teve gêmeos após o funeral. Deuteronomio 34, 6 fala sobre o enterro de Moisés, que aparentemente foi Deus quem fez: "e até hoje ninguém sabe onde é a sua sepultura". Isso não significa que quando o Deuteronômio foi escrito, eles a encontraram. Eles nuncam a acharam.



Assim, a tradução de Knox de Mateus 1, 25 é que ele não a conheceu em nenhum tempo antes dela dar a luz ao primogênito. Bom, e sobre a palavra "primogenito"? Isto não sugere que houve um segundo e um terceiro? Não, claro que não, e todo mundo que conhece o Antigo Testamento percebe isto porque primogenito em Exodo 13, 2 e Exodo 34 é na verdade um termo técnico para a criança que "inaugura o ventre materno". O primogenito é consagrado automaticamente ao Senhor. Mesmo se você tiver muitos outros, aquele primogênito é consagrado e é especial.



Bom, mas você pode dizer: "Não é natural ela não ter tido relações com José". Bem, não se ela fez uma promessa sagrada que aparentemente era um costume da época, até mesmo se fosse raro. Mas vamos continuar. "Muito bem, não é natural ser casada e não ter relações com seu parceiro, mas também não é natural conceber a segunda pessoa da Divindade em seu ventre e ter seu útero transformado no tabernáculo último e cósmico da salvação para todos os filhos de Deus. Para ser posto a parte para o propósito mais sagrado imaginável em toda a história da humanidade".



Quero dizer, nós não usamos a nossa melhor porcelana para fazer pic-nic no fundo do quintal, usamos? Portanto, se Deus usou este recipiente para o propósito mais sagrado imaginável ao homem, José deve ter tido um senso de decência sobre outros usos que não deixam de ser sagrados em si mesmos, da mesma forma que copos e pratos de plástico não são profanos, mas as coisas têm o seu lugar próprio. Não é natural dar a luz à Segunda Pessoa da Trindade, ensinar a andar, a falar e a rezar, o Deus que te criou. Não seria inatural, eu penso, se você se achar nesta situação, não seria improvável devotar-se tão completamente ao serviço de Deus nesta oportunidade tão absolutamente única, espetacular e estranha.



Não se trata somente de uma família normal. A Sagrada Família é um exemplo, mas não é uma família típica porque nem todas as pessoas têm por um filho ou um irmão o Logos eterno. Isto é único. Assim, o casamento deles também era único.



E sobre aqueles que eram chamados especificamente de irmãos de Jesus? Pegue por exemplo, Tiago. Tiago, nos é dito ser o irmão de Jesus. Mas espere um pouco, se você estudar a cena da cruz, você pode entender o que isto significa. Mateus 27, 56 fala de Maria ao pé da cruz que é a mãe de Tiago e de José. Marcos 15, 40, descreve Maria como a mãe de Tiago o Menor. E depois em João 19, 25 lemos sobre Maria, mãe de Jesus e no próximo parágrafo, "Maria mulher de Cleofas".



Fica óbvio quando se correlaciona estes três textos, Mateus 27, 56; Marcos 15, 40 e João 19, 25, que Maria, a mulher de Cleofas, diferente de Maria, a mãe de Jesus, é a mãe de Tiago. Mas só depois de ter correlacionado estes três textos. Alguém pode dizer: "Mas espere aí. Mateus 10, 3 descreve Tiago como filho de Alfeu", mas a grande maioria dos estudiosos diz que provavelmente Cleofas é o nome grego para o mesmo homem que é chamado de Alfeu, porque era bem típico ter um nome aramaico, como Alfeu, e ao mesmo tempo tomar um nome grego para as pessoas de origem grega em sua comunidade, como por exemplo Cleofas. Como Saulo, o fariseu; Saulo é o seu nome judeu. Deus não disse, "Eu vou mudar seu nome para Paulo"; este já era seu nome romano legal. Isto era comum naquela época.



Eu gostaria de sugerir que considerássemos João 19 no pé da cruz. Se Jesus tivesse outros irmãos, irmãos mais velhos, como em João 7 - um monte de pessoas sustenta o fato de que ele parece ter irmãos mais velhos - então a quem você acha que ele confiaria sua mãe? A João, o discipulo amado? E se você fizer um estudo mais aprofundado a este respeito, você irá descobrir que Tiago e João eram primos de Jesus, então o que Jesus estava fazendo era confiar sua mãe a um de seus primos, o discípulo amado. Pelo menos é isto o que incontáveis estudiosos têm sustentado. O que seria bastante natural se você não tivesse nenhum irmão de sangue mas tivesse primos. E na língua hebraica não existe palavra para primo. A palavra que é usada é irmão, não só para primos mas para sobrinhos também.



Temos exemplos em abundância. Genesis 14, 14: Lot é chamado de irmão de Abraão. Tecnicamente Abraão era tio de Lot. Genesis 29, 15 fala sobre Tio Labão como sendo irmão de Jacó. Na verdade, eu acho que o oposto, Jacó é irmão de Labão. É um relacionamento de sobrinho mas em hebraico não existe palavra que represente primo. Assim, o Antigo Testamento Grego não está traduzindo o "primo" de Genesis 14, 14, mas está transliterando-o para "adelphos" ou irmão, mesmo o tradutor sabendo que se está falando sobre um primo ou um sobrinho. E o que parece acontecer no Novo Testamento é algo semelhante. Ou seja, este costume foi transferido para os livros do Novo Testamento.



"Adelphos" é usado com frequencia para denotar aqueles que podemos provar serem primos, e não "anepsios" que não é usado com frequencia porque não estava de acordo com o costume hebraico. Nós podemos continuar olhando para outros exemplos e outras provas. Mas deixe-me dizer novamente que quando esta nova descoberta, quando esta doutrina novinha de que Jesus tinha irmãos e irmãs foi introduzida por Helvidio em 380, quase quatro séculos depois de Cristo, tudo o que S. Jerônimo podia dizer é que isto é uma novidade maldosa e uma afronta ousada para a fé de todo o mundo.



Nós, irmãos e irmãs, temos um péssimo caso de amnésia. Nós esquecemos aquilo que precisamos lembrar. E não só precisamos lembrar disto, precisamos viver e amar, partilhar e aumentar o nosso conhecimento a este respeito. Afinal, você pode dizer: "Eu não tenho tempo. Não tenho energia", mas veja bem, nós temos 60, 70, 80 anos, alguns 30, 40, 50. Que melhor maneira de usar nosso tempo do que usá-lo para conhecer a Santíssima Trindade e tudo o que Cristo tem feito para nos salvar e para fazer de nós sua família? Você consegue pensar em coisas melhores para fazer com o seu tempo? Eu não.



Temos que nos preparar para uma eternidade junto de Deus. Temos que aprender a amar a adoração. Temos que aprender a amar os santos. Temos que praticá-la para que quando cheguemos lá, isto não seja tão novo e estranho. O que será estranho e novo é contemplar a glória de Cristo em suas faces, mas os laços fraternais serão fortalecidos por esta vida nos preparando para aquela reunião grandiosa, para aquele grande retorno. Porque o céu é o nosso lar. A Santíssima Trindade é a primeira família e todos os santos são nossos irmãos e irmãs.



Assim, nós imitamos Cristo. Nos mantemos firmes na antiga fé da Igreja ao venerarmos os santos, especialmente a Santissima Virgem Maria.









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1Aqui Scott Hahn faz uma comparação com o baseball que eu vou tentar simplicar para o futebol...

2Aqui o autor descreve uma situação relativa ao povo americano.

3Aqui ele faz uma alegoria ao exame de época, quando não se passa no exame final.



Artigo publicado originalmente no site AgnusDei depois incorporado ao Veritatis Splendor. Tradução de Sandra Katzman.

Fonte: http://www.veritatis.com.br/apologetica/imagens-santos/870-a-veneracao-dos-santos-atraves-de-uma-perspectiva-biblica

Coroação se S. Luís.

Coroação se S. Luís.

Sagração de S. Luís IX, na Catedral de Reims.

Sagração de S. Luís IX, na Catedral de Reims.