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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Um mundo anticristão

Um mundo anticristão


Enquanto alguns deliram sobre a "opressão papista", o cristianismo é a religião mais perseguida no mundo.


Enquanto os cristãos são perseguidos implacavelmente nos países muçulmanos e só não são jogados aos leões por falta de leões, no Ocidente supostamente "cristão" também há uma perseguição, só que em nome do secularismo.



Às vezes essa perseguição é realizada em nome da "separação entre Igreja e Estado" e do "respeito às demais religiões". No outro dia, descobriu-se que uma agenda estudantil distribuída para quase quatro milhões de alunos da Comunidade Européia não mencionava os feriados cristãos de Natal e Páscoa, embora mencionasse feriados muçulmanos, judeus, chineses e até hindus. A desculpa do comitê que criou o calendário afirma que foi tudo "um simples engano". A agenda, que é distribuida gratuitamente mas custa bem caro ao contribuinte, é um festival de propaganda da Comunidade Européia. Suas páginas de conteúdo editorial podem ser lidas aqui, mas não consegui ter acesso ao calendário. (Se alguém tiver algum link, informe-me).



Alguns dirão que é um fato sem importância. Pode ser, mas observe que sempre que há críticas à "religião" por secularistas, quase sempre esta religião é a cristã. No outro dia houve até a notícia (depois desmentida) que Dilma teria retirado um crucifixo da sua sala. Várias vezes ocorreram casos similares nos EUA, de símbolos religiosos retirados de espaços públicos. Na arte moderna, então, a crítica aos símbolos religiosos é total. Só que tais símbolos são quase sempre cristãos. Com os muçulmanos, poucos têm coragem de mexer.



Praticantes das outras religiões podem dizer o que quiserem. Os cristãos, são vigiados constantemente por qualquer lapso verbal.



Fosse apenas a questão simbólica, nem seria tão grave. Mas atos como a promoção do aborto irrestrito (em alguns casos realizado com tesouradas em bebês vivos de oito meses já saídos do útero), do casamento homossexual e da eutanásia, quando não a insinuação da validade moral do incesto e até da pedofilia, são certamente tentativas de ir contra a antiga moral cristã.



Eu disse pedofilia? Certamente. Embora hoje esta seja chamada mais corretamente de "contato sexual intergeneracional". Eis aqui um "estudioso" afirmando, não apenas que o sexo intergeneracional pode ser positivo, mas argumentando que as próprias crianças estariam sendo vítimas dos malvados antipedófilos ao terem negada a oportunidade de se desenvolver sexualmente... (Artigo publicado em importante periódico de educação sexual.)



Não é preciso ser cristão para horrorizar-se com os arautos "científicos" da pedofilia ou com os métodos abortistas de Kermit Gosnell, é claro. Tratam-se de casos extremos. Mas os cristãos são os maiores críticos desse niilismo pós-moderno, e são também suas maiores vítimas.



Enquanto alguns deliram sobre a "opressão papista", o cristianismo é a religião mais perseguida no mundo, dentro e fora de seus países de origem.





(PS: Sou um mau cristão e nem vou à missa. Sou um reles pecador e nem sei se acredito em Deus. Mas, ao ler sobre certos horrores, quase passo a crer na existência do Diabo. No creo en brujas, pero que las hay, las hay.)

Fonte: Blog do Mr. X

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Pregador do Papa: resposta cristã ao cientificismo ateu.

Pregador do Papa: resposta cristã ao cientificismo ateu





CIDADE DO VATICANO, domingo, 5 de dezembro de 2010 (ZENIT.org) - Apresentamos a primeira pregação do Advento pronunciada na última sexta-feira pelo Pe. Raniero Cantalamessa OFM cap, pregador da Casa Pontifícia, diante de Bento XVI e da cúria romana, sobre "A resposta cristã ao cientificismo ateu".



Primeira Pregação do Advento



"Quando olho para o teu céu, obra de tuas mãos, vejo a lua e as estrelas que criaste: Que coisa é o homem?" (Sal 8, 4-5)



A resposta cristã ao cientificismo ateu



1. A tese do cientificismo ateu



As três meditações deste Advento 2010 querem ser uma pequena contribuição à necessidade da Igreja que levou o Santo Padre Bento XVI a instituir o Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização e escolher este tema para a próxima Assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos: Nova evangelizatio ad cristianam fidem tradendam - A nova evangelização para a transmissão da fé cristã.



A intenção é identificar alguns "nós" ou obstáculos que fazem muitos países de antiga tradição cristã "refratários" à mensagem do Evangelho, como diz o Santo Padre no Motu Proprio com o qual estabeleceu o novo Conselho [1]. Os "nós" ou os desafios que eu pretendo levar em consideração e aos quais eu gostaria de tentar dar uma resposta de fé são o cientificismo, o secularismo e o racionalismo. O apóstolo Paulo classifica esses desafios como "as muralhas e fortalezas que se levantam contra o conhecimento de Deus" (cf. 2 Cor 10:4).



Nesta primeira meditação examinemos o cientificismo. Para compreender o que se entende com este termo podemos começar pela descrição feita por João Paulo II:



"Outro perigo a ser considerado é o cientificismo. Esta concepção filosófica recusa-se a admitir, como válidas, formas de conhecimento distintas daquelas que são próprias das ciências positivas, relegando para o âmbito da pura imaginação tanto o conhecimento religioso e teológico, como o saber ético e estético." [2].



Podemos resumir assim a tese principal desta corrente de pensamento:



Primeira tese. A ciência e, particularmente a cosmologia, a física e a biologia, são a única forma objetiva e séria de conhecimento da realidade. "As sociedades modernas, escreveu Monod, estão construídas sobre a ciência. Devem a ela sua riqueza, sua potência e a certeza de que a riqueza e o poder ainda serão maiores e mais acessíveis amanhã ao homem, se ele o quiser [...]. Equipadas com todo o poder, dotadas de toda riqueza que a ciência oferece, nossas sociedades ainda tentam viver e ensinar sistemas de valores, já prejudicados pela mesma ciência subjacente" [3].



Segunda tese. Esta forma de conhecimento é incompatível com a fé que se baseia em pressupostos que não são nem demonstráveis nem refutáveis



Nesta linha, o ateu militante R. Dawkins chega ao ponto de chamar de "analfabetos" os cientistas que se dizem crentes, esquecendo-se de tantos cientistas mais famosos do que ele que já se declararam e continuam declarando-se crentes.



Terceira tese. A ciência já demonstrou a falsidade ou, pelo menos, a inutilidade da hipótese de Deus. É a afirmação que recebeu ampla cobertura dos meios de comunicação do mundo meses atrás, à raiz de uma declaração do astrofísico inglês Stephen Hawking. Este, ao contrário do que já havia escrito anteriormente, sustenta em seu último livro The Grand Design, que o conhecimento advindo da física torna desnecessário acreditar numa divindade criadora do universo: "a criação espontânea é a razão pela qual as coisas existem".



Quarta tese. Quase a totalidade ou a grande maioria dos cientistas são ateus. Esta é a afirmação do ateísmo científico militante, que tem em Richard Dawkins, autor do livro God's Delusion (Deus, um delírio), seu mais ativo propagador.



Todos estes argumentos se revelam falsos, não do ponto de vista do raciocínio a priori ou da argumentação teológica e da fé, mas da própria análise dos resultados da ciência e das opiniões de vários cientistas ilustres do passado e do presente. Um cientista do calibre de Max Planck, o pai da física quântica, diz sobre a ciência aquilo que Agostinho, Tomás de Aquino, Pascal, Kierkegaard e outros já tinham afirmado sobre a razão: "A ciência leva a um ponto, além dele não pode mais dirigir" [4].



Não repetirei a refutação dos argumentos anunciados que já foi feita por cientistas e filósofos competentes. Cito, por exemplo, a crítica pontual de Roberto Timossi, no livro L'illusione dell'ateismo. Perché la scienza non nega Dio (A ilusão do ateísmo. Porque a ciência não nega Deus), que tem apresentação do cardeal Angelo Bagnasco (Edições São Paulo 2009). Limito-me a uma observação elementar. Na semana em que a mídia espalhou a declaração acima, de que a ciência tornou desnecessária a hipótese de um criador, eu me vi na necessidade, na homilia de domingo, de explicar a cristãos muito simples de uma cidade de Reatino onde estava o erro fundamental de cientistas e ateus e porque não deveriam ficar impressionados com a sensação despertada por essa declaração. Fiz isso com um exemplo que pode ser útil repetir aqui em um contexto tão diferente.



"Existem aves noturnas, como a coruja, cujos olhos são feitos para ver no escuro da noite, não de dia. A luz do sol cega. Estes pássaros sabem tudo e se movem com agilidade no mundo noturno, mas não são ninguém no mundo diurno. Vamos adotar, por um momento, o tipo de fábulas nas quais os animais falam uns com os outros. Suponha que uma águia faça amizade com uma família de corujas e converse com elas sobre o sol: como ele ilumina tudo, como, sem ele, tudo iria mergulhar no escuro e no frio, como seu próprio mundo noturno não existiria sem o sol. O que diria a coruja? "Você mente! Nunca vi o seu sol. Nos movemos muito bem e conseguimos alimento sem ele. Seu sol é uma hipótese inútil, não existe".



É exatamente isso que faz o cientista ateu quando diz: "Deus não existe". Julga um mundo que não conhece, aplica suas leis a um objeto que está fora do seu alcance. Para ver Deus é necessário olhar com uma perspectiva diferente, aventurar-se fora da noite. Neste sentido, ainda é válida a antiga afirmação do salmista: "Diz o insensato: Deus não existe".



2. Não ao cientificismo, sim à ciência



A rejeição do cientificismo não deve, naturalmente, levar à rejeição ou à desconfiança na ciência, assim como uma rejeição do racionalismo não nos leva a rejeitar a razão. Fazer o contrário seria um desserviço à fé, antes mesmo que à ciência. A história tem nos ensinado dolorosamente onde nos leva uma atitude como essa.



De uma atitude aberta e construtiva à ciência, nos deu um exemplo luminoso o novo beato John Henry Newman. Nove anos depois da publicação da obra de Darwin sobre a evolução das espécies, quando não poucas pessoas ao redor se mostravam turbadas e perplexas, ele assegurava, exprimindo um juízo que antecipava o juízo atual da Igreja sobre a não incompatibilidade da teoria com a fé católica. Vale a pena escutar novamente trechos centrais da sua carta ao canônico J. Walker, que ainda conservam grande parte de sua validade:



"Essa [a teoria de Darwin] não me assusta [...] Não me parece que se negue a criação pelo fato do Criador, milhões de anos atrás, ter imposto leis à matéria. Não negamos nem delimitamos o Criador por ter criado a ação autônoma que deu origem ao intelecto humano dotado quase de um talento criativo; menos ainda negamos ou delimitamos seu poder se acreditamos que Ele tenha assinado leis à matéria tais como plasmar e construir mediante a instrumentalidade cega através de eras inumeráveis o mundo como o vemos hoje [...]. A teoria do senhor Darwin não deve ser necessariamente ateia, que ela seja verdadeira ou não; pode simplesmente estar surgindo uma ideia mais alargada da Divina Presciência e Capacidade... À primeira vista, não vejo como a 'evolução casual de seres orgânicos' seja incoerente com o plano divino - É casual para nós, não para Deus" [5].



Sua grande fé permitia que Newman visse com grande serenidade as descobertas científicas presentes ou futuras. "Quando uma enxurrada de fatos, reais ou presumidos, surge enquanto outros já se avizinham, todos os crentes, católicos ou não, se sentem chamados a examinar o significado destes fatos" [6]. Ele via nestas descobertas "uma conexão indireta com as opiniões religiosas". Um exemplo desta conexão, acredito eu, é o próprio fato de que, no mesmo ano em que Darwin elaborava a teoria da evolução das espécies, ele, independentemente, anunciava sua doutrina do "desenvolvimento da doutrina cristã". Referindo-se à analogia, neste ponto, entre a ordem natural e física e a moral, ele escreveu: "Como o Criador descansou no sétimo dia após o trabalho realizado e ainda hoje ele 'continua agindo', assim ele comunicou de uma vez por todas o Credo no princípio e continua favorecendo seu desenvolvimento e garantindo seu crescimento" [7].



Da atitude nova e positiva da Igreja católica em relação à ciência é expressão concreta a Academia Pontifícia das Ciências, na qual cientistas eminentes de todo o mundo, crentes e não crentes, encontram-se para expor e debater suas ideias sobre problemas de interesse comum para a ciência e para a fé.



3. O homem para o universo ou o universo para o homem?



Mas, repito, não é minha intenção fazer aqui uma crítica geral do cientificismo. O que gostaria de destacar é um aspecto particular de algo que tem um impacto direto e decisivo sobre a evangelização: trata-se da posição que o homem ocupa na visão do cientificismo ateu.



Há agora uma corrida entre os cientistas não crentes, especialmente os biólogos e cosmólogos, que vai mais longe ao afirmar a total marginalização e insignificância do homem no universo e mesmo no grande mar da vida. "A antiga aliança é quebrada - Monod escreveu -; o homem finalmente se sabe sozinho na imensidão do Universo do qual emergiu por acaso. Seu dever, como seu destino, não está escrito em nenhum lugar" [8]. "Sempre pensei - afirma outro - ser insignificante. Conhecendo as dimensões do Universo não chego a compreender quanto o sou verdadeiramente... Somos somente um pouco de lama sobre um planeta que pertence ao sol" [9].



Blaise Pascal refutou de antemão esta tese com um argumento que ainda mantém seu vigor:



"O homem é apenas um caniço, o mais fraco da natureza; mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para o aniquilar: um vapor, uma gota de água, bastam para o matar. Mas quando o universo o aniquilasse, o homem seria ainda mais nobre do que o que o mata, porque sabe que morre, e a superioridade que o universo tem sobre ele; o universo não sabe nada disso." [10].



A visão cientificista da realidade, junto com o homem, retira subitamente do centro do universo inclusive Cristo. Ele é reduzido, por usar uma expressão de M. Blondel, a "um acidente histórico, isolado do cosmo como um episódio postiço, um intruso ou um perdido na imensidão hostil e esmagadora do Universo" [11].



Esta visão do homem começa a ter reflexos práticos na cultura e na mentalidade. Explicam-se assim certos excessos do ecologismo que tendem a equiparar os direitos dos animais e até das plantas aos direitos do homem. É sabido que existem animais mais bem cuidados e alimentados que milhões de crianças. A influência é sentida inclusive no campo religioso. Há formas difusas de religiosidade nas quais o contato e a sintonia com a energia do cosmo tomaram o lugar do contato com Deus como caminho de salvação. Aquilo que Paulo dizia de Deus: "Pois nele vivemos, nos movemos e existimos" (At. 17, 28), diz aqui do cosmo material.



De certa forma, trata-se do retorno à era pré-cristã como regime de vida: Deus - universo - homem, à qual a Bíblia e o Cristianismo opuseram o regime: Deus - homem - universo. Uma das acusações mais violentas que o pagão Celso faz aos judeus e cristãos é a de dizer que "há Deus e, logo depois dele, nós, desde que fomos criados por ele à sua semelhança; tudo nos é subordinado: a terra, a água, o ar, as estrelas, tudo existe por nós e está ordenado ao nosso serviço" [12].



Mas há ainda uma profunda diferença: no pensamento antigo, principalmente o grego, o homem, mesmo subordinado ao universo, possui uma 'dignidade altíssima', como mostrou a obra magistral de Max Pohlenz, "O homem grego" [13]; aqui parece que há prazer em deprimir o homem e tirar dele qualquer pretensão de superioridade sobre o resto da natureza. Mais que "humanismo ateu", pelo menos a partir deste ponto de vista, deveríamos falar, no meu modo de ver, de anti-humanismo, ou mesmo "desumanismo ateu".



Chegamos agora à visão cristã. Celso não estava errado em derivá-la da grande afirmação do Gênesis 1, 26 sobre o homem criado "à imagem e semelhança de Deus [14]. A visão bíblica encontra sua mais esplêndida expressão no Salmo 8:



"Quando olho para o teu céu, obra de tuas mãos,



vejo a lua e as estrelas que criaste:



Que coisa é o homem, para dele te lembrares,



que é o ser humano, para o visitares?



No entanto o fizeste só um pouco menor que um deus,



de glória e de honra o coroaste.



Tu o colocaste à frente das obras de tuas mãos.



Tudo puseste sob os seus pés".



A criação do homem à imagem de Deus possui implicações de certa forma chocantes sobre o conceito de homem que o debate atual nos empurra a trazer à luz. Tudo se baseia na revelação da Trindade trazida por Cristo. O homem é criado à imagem de Deus, o que significa que ele compartilha a essência íntima de Deus que é a relação amorosa entre Pai, Filho e Espírito Santo. É claro que existe uma lacuna ontológica entre Deus e a criatura. No entanto, pela graça, (jamais esqueçam esta afirmação!) esta lacuna é preenchida, de modo que é menos profunda do que entre o homem e o resto da criação.



Somente o homem, de fato, como uma pessoa capaz de relacionar-se, participa da dimensão pessoal e relacional de Deus, é sua imagem. O que significa que, na sua essência, embora a um nível de criatura, é o que, no nível incriado, são o Pai, o Filho e o Espírito Santo, em sua essência. A pessoa criada é "pessoa" propriamente por esse núcleo racional que a torna capaz de acolher o relacionamento que Deus quer estabelecer com ela e, ao mesmo tempo, torna-se um gerador de relações para os outros e o mundo.


4. A força da verdade




Vejamos como se poderia traduzir esta visão cristão da relação homem-universo no campo da evangelização. Primeiro, um prefácio. Resumindo o pensamento do mestre, um discípulo de Dionísio Areopagita enunciou esta grande verdade: "Não se deve refutar a opinião dos outros, nem se deve escrever contra uma opinião ou religião que não parece boa. Se deve escrever só a favor da verdade e não contra os outros" [15].



Não se pode absolutizar este princípio (às vezes pode ser útil e necessário refutar doutrinas falsas), mas é certo que a exposição positiva da verdade é, muitas vezes, mais eficaz que a refutação do erro contrário. É importante, creio, tomar em conta este critério na evangelização e especialmente no confronto com os três obstáculos mencionados anteriormente: cientificismo, secularismo e racionalismo. Na evangelização, é mais eficaz que a polêmica contra eles, a exposição pacífica da visão cristã, contando com a força inerente desta quando acompanhada de profunda convicção e feita, como incutia São Pedro, "com doçura e respeito" (1 Pe 3, 16).



A maior expressão da dignidade e da vocação do homem, segundo a visão cristã, foi cristalizada na doutrina da deificação do homem. Esta doutrina não teve tanta importância na Igreja Ortodoxa quanto na latina. Os Padres gregos, superando todos custos que o uso de pagão tinha acumulado sobre o conceito de deificação (theosis), fizeram dele o centro de sua espiritualidade. A teologia latina tem insistido menos sobre ela. "O propósito da vida para os cristãos gregos - lê-se no Dictionnaire des Spiritualitè - é a divinização, o que para os cristãos do Ocidente é a aquisição da santidade... O Verbo se fez carne, de acordo com os gregos, para devolver ao homem semelhança de Deus perdida em Adão e para divinizá-lo. Para os latinos, ele se fez homem para redimir a humanidade... e para pagar a dívida com a justiça de Deus" [16]. Poderíamos dizer, simplificando ao máximo, que a teologia latina, depois de Agostinho, insiste sobre o que Cristo veio tirar - o pecado -, e a grega insiste mais sobre o que ele veio dar aos homens: a imagem de Deus, o Espírito Santo e a vida divina.



Não se deve forçar demais esta oposição, como às vezes tendem a fazer alguns autores ortodoxos. A espiritualidade latina, por vezes, expressa o mesmo ideal ainda que evite o termo divinização, que, é bom lembrar, é estranho à linguagem bíblica. Na liturgia das horas da noite de Natal, vamos ouvir a vibrante exortação de São Leão Magno, que expressa a mesma visão da vocação cristã: "Reconhece, ó cristão, a tua dignidade. Uma vez constituído participante da natureza divina, não penses em voltar às antigas misérias da tua vida passada. Lembra-te de que cabeça e de que corpo és membro" [17].



Infelizmente, alguns autores ortodoxos mantiveram-se firmes à controvérsia do século XIV, entre Gregório Palamas e Barlaam, e parecem ignorar a rica tradição mística latina. A doutrina de São João da Cruz, por exemplo, de que os cristãos, redimidos por Cristo e tornados filhos no Filho, estão imersos no fluxo das operações trinitárias e participam da vida íntima de Deus não é menos elevada que a da divinização, ainda que se expresse em termos diferentes. Também a doutrina sobre os dons da inteligência e da sabedoria do Espírito Santo, tão cara a São Boaventura e autores medievais, estava animada pelo mesma inspiração mística.



Não pode, contudo, deixar de reconhecer que a espiritualidade ortodoxa tem algo a ensinar sobre este ponto ao resto da cristandade, à teologia protestante ainda mais do que à teologia católica. Se existe realmente alguma coisa verdadeiramente oposta à visão ortodoxa do cristão deficado pela graça é a concepção protestante, particularmente a luterana, da justificação extrínseca e legal de que o homem redimido é, "ao mesmo tempo, justo e pecador", pecador em si mesmo, justo diante de Deus.



Acima de tudo, podemos aprender com a tradição oriental a não reservar esse ideal sublime da vida cristã a uma elite espiritual chamada a percorrer os caminhos da mística, mas oferecê-lo a todos os batizados, torná-lo objeto de catequese para o povo, de formação religiosa nos seminários e noviciados. Se volto a pensar nos meus anos de formação, me lembro de ter visto uma ênfase quase exclusiva na ascese que centrava tudo na correção de vícios e na aquisição da virtude. Quando perguntado pelos discípulos sobre o objetivo final da vida cristã, um santo russo, São Serafim de Sarov, respondeu sem hesitação: "A verdadeira finalidade da vida cristã é a aquisição do Espírito Santo de Deus. Quanto à oração, o jejum, vigílias, esmolas e outras boas obras feitas em nome de Cristo, são apenas meios para adquirir o Espírito Santo" [18].



5. "Tudo foi feito por meio dele"



O Natal é a ocasião ideal para voltar a propor a nós mesmos e aos demais este ideal, patrimônio comum da cristandade. É da encarnação do Verbo que os Padres gregos derivam a própria possibilidade da divinização. São Atanásio não se cansa de repetir: "O Verbo se fez homem para que pudéssemos nos tornar Deus" [19]. "Ele se encarnou e o homem tornou-se Deus, porque se uniu a Deus", escreve por sua vez São Gregório Nazianzeno [20]. Com Cristo, é restaurado ou trazido à luz aquele ser "à imagem de Deus" que é a base da superioridade do homem sobre o restante da criação.



Dizia antes como a marginalização do homem traz consigo automaticamente a marginalização de Cristo do universo e da história. Ainda sobre este ponto de vista o Natal é a antítese mais radical da visão cientificista. Sobre isso, escutaremos proclamar solenemente: "Tudo foi feito por meio dele, e sem ele nada foi feito de tudo o que existe" (Jo. 1,3); "pois é nele que foram criadas todas as coisas, tudo foi criado através dele e para ele" (Col 1,16). A Igreja assumiu essa revelação e nos faz repetir no Credo: "Per quem omnia facta sunt": Por meio dele tudo foi criado.



Ouvindo estas palavras - enquanto todos à nossa volta que não fazem mais que repetir "O mundo se explica sozinho, sem necessidade da hipótese de um criador", ou "somos frutos do acaso e da necessidade" - se dá, sem dúvida, um choque, mas é mais fácil que se produza um conversão e floresça a fé depois de um choque como esse que com uma longa argumentação apologética. A questão crucial é: seremos capazes, nós que aspiramos reevangelizar o mundo, de expandir nossa fé a essa dimensão? Nós realmente acreditamos, de todo o coração, que "todas as coisas foram feitas por meio de Cristo e em vista de Cristo"?



Em seu livro Introdução ao Cristianismo, há muitos anos, Santo Padre, escreveu:



"A segunda parte principal do Credo coloca-nos propriamente diante do elemento cristão fundamental: a crença de que o homem Jesus, um indivíduo executado na Palestina pelo ano 30, é o 'Cristo' (ungido, escolhido) de Deus, e mais: é o próprio Filho de Deus, centro e opção de toda a história humana... Contudo, o primeiro impacto desta realidade causa escândalo ao pensamento humano: Não nos tornamos com isto vítimas de um tremendo positivismo? Será razoável agarrar-nos à palhinha de um único acontecimento histórico? Poderemos ousar fundamentar a nossa existência inteira, e até a história toda, sobre o que não passa de pobre palha de um acontecimento qualquer a boiar no grande oceano da história?" [21].



Para estas questões, Santo Padre, nós vamos responder sem hesitar, como faz o senhor nesse livro e como não se cansa de repetir hoje, na sua qualidade de Sumo Pontífice: Sim, é possível, é libertador e alegre. Não por nossas forças, mas pelo dom inestimável da fé recebemos e pela qual damos graças infinitas a Deus.



* * *



[1] Bento XVI, Motu Proprio "Ubicunque et semper".



[2] João Paulo II, Parole sull'uomo, Rizzoli, Milano 2002, p. 443; cf. anche Enc. "Fides et ratio", n. 88.



[3] J. Monod, Il caso e la necessità, Mondadori, Milano, 1970, pag. 136-7. [Ed. original francesa: Jacques Monod, Le Hazard et la necessité. Essai sur la philosophie naturelle de la biologie moderne. Seuil, Paris 1970; English trans. Chance and Necessity. An Essay on the Natural Philosophy of Modern Biology, Vintage 1971].



[4] M. Planck, O conhecimento do mundo físico, (cit. por Timossi, op.cit. p. 160)



[5] J.H. Newman, in The Letters and Diaries, vol. XXIV, Oxford 1973, pp. 77 s.



[6] J.H. Newman, Apologia pro vita sua, Brescia 1982, p.277



[7] J.H. Newman, Lo sviluppo della dottrina cristiana, Bologna 1967.



[8] Monod, op. cit. p. 136.



[9] P. Atkins, citado por Timossi, op. cit. p. 482.



[10] B. Pascal, Pensamentos.



[11] M. Blondel et A. Valensin, Correspondance, Aubier, Paris, 1957, p. 47.



[12] In Origene, Contra Celsum, IV, 23 (SCh 136, p.238; cf. IV, 74 (ib. p. 366)



[13] Cf. M. Pohlenz, O homem grego, Firenze 1962.



[14] In Origene, op. cit., IV, 30 (SCh 136, p. 254).



[15] Scolii a Dionísio Areopagita in PG 4, 536; cf. Dionísio Areopagita, Lettera VI (PG, 3, 1077).



[16] G. Bardy, in Dct. Spir., III, col. 1389 s.



[17] São Leão Magno, Sermo 21, 3: CCL 138, 88 (PL 54, 192-193)



[18] Diálogo com Motovilov, em Irina Gorainoff, Serafino di Sarov, Gribaudi, Turin 1981. p. 156.



[19] S. Atanasio, J. Quasten, Patrologia, II, 22-83; Obras: PG 25-28.



[20] S. Gregorio Nazianzeno, Discursos teológicos, III, 19 (PG 36, 100A).



[21] J. Ratzinger, Introdução ao Cristianismo, Herder, São Paulo, 1970. Versão brasileira do Pe. José Wisniewski Filho, S.V.D., do original alemão Einführung in das Christentum



[Traduzido do original italiano por Márcia Ameriot]


Fonte: http://www.cleofas.com.br/

Stigmata - Filme

Stigmata - Filme



O quinto evangelho, segundo o herético filme norte-americano Stigmata, teria sido escondido do mundo pela Igreja Católica para que esta assegurasse seu poder. O quinto evangelho anunciaria o sentimento religioso, a desnecessidade de cumprir quaisquer ritos religiosos e o culto exclusivo a um Deus tão interior e pessoal quanto o umbigo do fiel. São estas as principais heresias desse filme que integra a última fornada de filmes anticristãos, entre os quais se incluem desde 'O Padre', da Walt Disney, até 'Dogma', da mesma produtora. No entanto, e apesar de ser forte a concorrência, Stigmata é de longe o mais herético, e foi por isto o único a merecer um artigo.



Mas ainda não disse tudo. Releio a última frase acima e vejo que faltou dizer o principal, aquilo que realmente me motivou a escrever estas linhas: faltou dizer que Stigmata é um filme diferente. Ora, não há um único filme hoje em dia que não seja ou contenha algo de anticristão. Vivemos numa espécie de militância constante; cada filme, cada revista, a cultura toda parece estar unida em torno de uma única coisa, a crítica ao cristianismo. Ora, se isso é verdade, por que escrever a resenha de mais um filme anticristão? Por que se importar? Como disse, Stigmata é um filme diferente pois traz .. uma "boa mensagem". Quase diria, uma "boa nova", um novo - "o quinto" - evangelho.



Botando os pés bem firmes no chão, sabemos que a ideia de um quinto evangelho escondido pela Igreja é, em si mesma, absurda. Mais ainda, sabemos que um evangelho tal como o proposto pelo filme seria a negação direta dos outros quatro evangelhos. Em outras palavras, o quinto evangelho seria a inversão do catolicismo - ou seja, algo de puramente sinistro. Mas o que mais me espanta é saber de pessoas que assistiram o filme e saíram felizes, acreditando que o filme encerrava uma mensagem de bem. "Chegará um tempo em que aqueles que vos perseguirem acreditarão estar a serviço de Deus". É curioso observar que o slogan do filme diz, sem ironia, que Stigmata "trará o inferno para dentro de você".



Quanto às ideias principais deste quinto evangelho, conforme descritas no primeiro parágrafo desse texto, não passam de absurdos puro e simples. A ideia da Igreja ter escondido o evangelho para manter seu poder não só confunde poder temporal com autoridade espiritual - separação aliás que é justamente uma das marcas do catolicismo, sobretudo ao compará-lo com o mundo pagão da época - como faz tábula rasa dos 300 anos de martírio na fundação mesma da religião, e de toda a Idade Média. De fato, o poder temporal do catolicismo, tal como o conhecemos, data da Renascença.



Já a ideia do primado do sentimento religioso sobre a fé, fruto da concepção de um Deus pessoal, é um deleite pela facilidade de se ver refutada: em primeiro lugar, o sentimento religioso é um sentimento, provém dos sentidos, portanto. Já a fé é uma adesão da inteligência a uma Verdade intuída, logo é um ato de intelecção. Assim sendo, afirmar o primado do sentimento religioso sobre a fé é o mesmo que afirmar o primado dos sentimentos sobre a inteligência, o que é estúpido; em segundo lugar, o sentimento religioso, a religiosidade, tal como definida usualmente, é comum a todos os homens, independente de serem cristãos, judeus ou pagãos. Ora, se o sentimento religioso é superior à fé, para que, então, ocorrem as revelações? Por que o Cristo então incentivou tão acentuado desvio em relação ao mundo pagão? Qual o sentido do martírio, não apenas dos primeiros cristãos, mas do próprio Cristo?



A ideia do Deus pessoal, epítome dessa brincadeira ímpia chamada New Age, não passa de uma tolice kantiana digna de Shirley McLaine e indigna de qualquer pessoa que queira ser levada a sério. Que absurdo este que coloca sobre o sacrifício muito objetivo do Cristo no Gólgota a própria subjetividade! Crer num Deus pessoal, subjetivo, significa necessariamente que:



a. Deus existe somente subjetivamente; ou que



b. Deus existe objetivamente, mas só pode ser conhecido subjetivamente.



A primeira conclusão significa precisamente que Deus não existe e, portanto, tanto faz se nele cremos ou não. A segunda conclusão, por sua vez, significa que Deus existe mas não podemos crer nele, pois não é possível crer ou descrer em algo que desconhecemos totalmente. Deus, segundo esta última conclusão, teria provavelmente, em sua infinita sabedoria, criado a imaginação para completarmos Sua ausência com nossa criatividade... Seria como um pai que abandonasse as crianças embaixo da ponte e lhes desse, como consolo, uma caixinha de lápis de colorir. O que mais me impressiona nesta teoria, uma das favoritas do festivo movimento New Age, é ver a quantidade de livros que sobre esse assunto são publicados; ora, se Deus é pessoal, se não pode ser conhecido objetivamente, o que adianta escrever a Seu respeito?



Resta por fim, entre as várias heresias do filme, analisar justamente aquela que leva o título. Não importa o que possam dizer os protestantes, os espíritas, os umbandistas, pois estigma é sinal de santidade. Francisco de Assis, após toda uma vida de santidade, recebeu, no momento mais sublime de sua história, as 5 chagas do Cristo. Um outro exemplo é o do recém beatificado Padre Pio, cujo processo de canonização está sendo movido pelo próprio Papa João Paulo II, testemunha ocular de um dos seus milagres. O capuchinho de Pietrelcina, que hoje só perde em devotos na Itália para o próprio Francisco de Assis, portou durante 50 anos as chagas, e é grande o número de fotos do frade e seus estigmas1.



Podem, alguns argumentar que se trata apenas de uma ficção, mas a história está repleta de exemplos de ficções que, à opinião pública, tornaram-se realidade: tome os exemplos dos papas Alexandre Bórgia2 e Pio XII, por exemplo. Em ambos os casos, bastou uma simples peça de teatro difamatória para macular a imagem destes grandes papas para todas as gerações posteriores. A falta de informação da maioria das pessoas faz com que, a seus olhos, a ficção se torne verossímil - o que já é motivo suficiente para se combater o filme. Pois consentir na sua verossimilhança, já é concorrer para a apostasia.



Notas:



1 Remeto o leitor ao site http://www.capuchinfriars.org.au/padrepio.htm ou o mais completo http://www.abol.it/padrepio.



2 O papa Alexandre VI, avô de S. Francisco de Bórgia, teve de fato amantes, a maioria das quais antes de ter sido ordenado, mas nunca foi provado, e é de fato inverossímil que tenha tido a própria filha como amante. Quando repreendido por sua conduta, o papa pediu publicamente perdão por suas faltas e só não deixou a Santa Sé porque os fiéis, em reconhecimento de tudo aquilo que ele havia feito pela Igreja, foram contra.





Autor: Alexandre A. Bastos

Fonte: Lista Reflexões





sábado, 15 de janeiro de 2011

Católicos e nazistas

O papel da religião no Terceiro Reich




Pe. John Flynn, LC





ROMA, domingo, 19 dezembro de 2010 (ZENIT.org) - A Igreja é muitas vezes criticada por não ter feito o suficiente para se opor a Hitler. Em sua recente viagem à Inglaterra e Escócia, Bento XVI teve a oportunidade de apresentar o outro lado da moeda, lembrando o caráter antirreligioso do regime nazista.

"Lembro-me também da atitude do regime em relação a pastores cristãos e religiosos que proclamaram a verdade no amor, resistiram aos nazistas e pagaram com suas vidas essa oposição", disse na audiência com Sua Majestade a Rainha, em Edimburgo, na Escócia.



O quadro apresentado pelo Papa dos nazistas como ateus que querem erradicar Deus da sociedade não foi bem aceito. Em um comunicado de imprensa de 16 de setembro, Andrew Copson, presidente da British Humanist Society, negou que o ateísmo de nazista levara a esse comportamento extremo.


Um livro publicado no início deste ano lança alguma luz sobre a questão da religião e os nazistas. Em "Catholicism and the Roots of Nazism" (O catolicismo e as raízes do nazismo, Oxford University Press), Derek Hastings mostra como, nos primeiros anos, houve, de fato, um forte componente católico no movimento nazista. Ele também alega que houve grandes discrepâncias entre a natureza do regime nazista no poder nos anos 30 e 40 e movimento originário de Munique nos anos seguintes à Primeira Guerra Mundial.


"Apesar de manter uma oportuna fachada conciliadora, há pouca dúvida de que o partido nazista exibiu uma grande antipatia para com a Igreja Católica - e, em grande medida, para com o cristianismo em geral - durante a maior parte do período do Terceiro Reich", comentou Hastings.



Ele observou que muitos historiadores têm afirmado que, após os nazistas tomarem o poder em 1933, o partido passou a se tornar uma espécie de religião política e uma forma rival de devoção leiga que lutou para suplantar a identidade católica e cristã.


Voltando a Munique



O Partido Nazista foi fundado em 1919, em Munique. No período de 1919 até o falido Putsch (golpe) da Cervejaria em Munique, em 1923, os nazistas cortejaram abertamente os católicos. Sua abertura ao catolicismo permitiu aos nazistas ganhar adeptos e destacar-se sobre outros movimentos populares. Como consequência do fracasso de 1923, que levou Hitler para a prisão por um curto período, o movimento nazista foi refundado em 1925, de uma forma que deixou pouco espaço para sua orientação católica anterior.



Hastings explicou que este nexo católico com os nazistas durante os primeiros anos foi devido a fatores locais não extensíveis ao resto da Alemanha. O apoio ao Partido Popular da Baviera (BVP) foi menor em Munique e nos arredores da Alta Baviera que em quaisquer outras áreas católicas do país. Em vez disso, tendeu a apoiar os movimentos populares com um viés mais nacionalista.


Outra característica que distinguiu os católicos de Munique e arredores foi a sua hostilidade para com o que consideraram como ultramontanismo excessivo do BVP e dos bispos da Igreja. O movimento ultramontano, explicou Hastings, surgiu nos séculos XVIII e XIX, quando os católicos da Europa olhavam cada vez mais para o Papa que residia "além das montanhas" (ultra montes).



Na década que antecedeu a Primeira Guerra Mundial, houve um movimento de reforma católica nos arredores de Munique, que consistiu em um impulso por uma nova forma de identidade religiosa, que fosse fiel à Igreja Católica no sentido espiritual, mas mais aberta ao curso político e cultural radicalmente nacionalista, observou Hastings. Os nazistas foram capazes de tirar partido destas tendências locais, combinadas com o descontentamento geral que se seguiu à Primeira Guerra Mundial, para convocar os católicos nos estágios iniciais de desenvolvimento.


Antes de 1923, os nazistas ganharam o apoio de milhares de católicos em Munique e arredores, notou Hastings. No começo, o BVP ignorou o novo partido, provavelmente com o desejo de evitar mais publicidade. No final de 1922, vendo o número crescente de seguidores do partido nazista, o BVP decidiu embarcar em uma campanha para fazer que os bávaros fossem conscientes da natureza perigosa dos nazistas.



Isso não impediu que os nazistas deixassem de cortejar os católicos e, de acordo com Hastings, em 1923 seus esforços vieram à tona. Naquele ano, lançaram uma campanha de recrutamento para atrair os católicos ao seu partido. Seus esforços foram bem sucedidos, ao ponto que até mesmo muitos sacerdotes católicos se envolveram.


Em seus discursos na época, Hitler se referia abertamente à sua fé católica e à influência que ela tinha em seu ativismo político. Em 1923, o jornal nazista Beobachter começou a publicar inclusive os horários das Missas dominicais e exortar seus leitores a cumprirem suas obrigações religiosas.



Refundação


No entanto, essa proximidade entre os católicos e o partido nazista acabou de repente, com o Putsch da Cervejaria, em novembro daquele ano. A tentativa de Hitler de tomar o controle do estado bávaro terminou em rápido fracasso e o movimento nazista entrou em um período de divisão e de declínio, explicou Hastings.

Isso coincidiu com o aumento da anticatolicismo em outros movimentos populares, em Munique, o que também afetou parte do partido nazista. Segundo Hastings, neste período, muitos católicos abandonaram o partido nazista, e aqueles que permaneceram o fizeram abrindo mão de sua identidade católica. Os sacerdotes católicos que tinham se unido ao partido também o abandonaram. De fato, no final de 1923, a arquidiocese de Munique-Freising tinha lhes proibido de participar das reuniões do partido nazista.



Uma vez refundada, a anterior orientação católica foi invertida e em grande parte substituiu o cristianismo com o seu próprio conjunto de figuras de mártires tirados do Putsch fracassado. A partir desse momento, Hitler também não voltou a se apresentar como um católico praticante ou como um defensor do cristianismo, observou Hastings.

Com o tempo, o movimento nazista tornou-se cada vez mais abertamente anticatólico, a tal ponto que os nazistas se opuseram fortemente ao estabelecimento de uma concordata entre a Baviera e o Vaticano. Eles também foram abertamente críticos com o núncio papal, Dom Eugenio Pacelli, futuro Papa Pio XII. Em publicações nazistas, atacava-se frequentemente os bispos alemães, em especial o cardeal Michael von Faulhaber, que, pouco antes do Putsch de 1923, havia falado em defesa dos judeus.


Sobre a questão do antissemitismo nazista e da influência dos católicos, Hastings referiu que, no início, o movimento nazista se centrou nas imagens do Novo Testamento - como a expulsão dos vendilhões do templo por Cristo - em sua propaganda. Nesta fase, contudo, a ideologia nazista ainda não estava totalmente clara e, quando adotou uma postura mais definida nos anos seguintes, tornou-se a forma mais pura e abertamente leiga de antissemitismo.


No início dos anos 30, após as condenações eclesiásticas oficiais, Hastings argumentou que se tornou mais clara a oposição mútua das visões de mundo católicas e nazistas.

Em conclusão, Hastings disse que, embora seja necessário reconhecer o papel real desempenhado pelo clero e pelos leigos católicos nas fases iniciais do movimento nazista, ao mesmo tempo não há nenhuma base para acusar o catolicismo, seja como instituição ou como um sistema de ideias.

Além disso, a coabitação entre as identidades nazista e católica desapareceu no que Hastings chamou de "fluxo de invectivas anticatólicas que lavou o fraturado movimento como resultado do golpe fracassado".

Essa coabitação foi uma das primeiras vítimas da ambição política cada vez mais messiânica de Hitler, observou Hastings. O que fica claro, tanto em Hastings como em outros, é que os terríveis excessos do regime nazista aconteceram apesar de, e não devido a qualquer influência católica.




A dita "Papisa Joana"

A estória

Nos debates concernentes à Papisa Joana são evocados onze textos ou fontes escritas, que se escalonam entre os anos de 886 e 1279. Esses onze textos se reduzem a duas famílias de documentos: uma família é a da Chronica universalis Mettensis, devida ao dominicano João de Mailly e redigida por volta de 1250. A outra família é a do Chronicon pontificum et imperatorum, documento confeccionado pelo confrade dominicano Martinho de Tropau, dito "Polono" (? 1279). Os relatos da estória encontrados em documentos mais antigos do que os dois atrás citados são devidos a interpolações posteriores ao século XIII (interpolações, pois, tardias, feitas em documentos dos séculos IX - XII).



Que dizem as duas fontes sobre a Papisa Joana?



1) A recensão da Chronica universalis Mettensis refere o seguinte:



Em Roma, uma mulher simulou o sexo masculino; e, muito inteligente como era, veio a ser notário da Cúria pontifícia, Cardeal e Papa. Um belo dia, tendo montado a cavalo, foi acometida de dores de parto. A justiça de Roma então a condenou a ser amarrada pelos pés ao rabo de um cavalo, que a arrastou meia-légua de distância, enquanto o povo a apedrejava. Foi sepultada no lugar mesmo em que morreu.



Um cronista posterior, Estevão de Bourbon, acrescentou dois trapos a essa narrativa: Joana fora ter a Roma (a crônica anterior nada dizia sobre a origem da "heroína"), e se tornara Cardeal e Papa com o auxílio do demônio.



Posteriormente, um cronista de Erfurt observou, em acréscimo, que Joana era uma bela mulher; também modificou o papel do demônio, dizendo que este denunciara num consistório que Joana estava grávida.



A crônica de Metz coloca tal episódio logo após o pontificado do Papa Vítor III (? 1087). Estevão de Bourbon diz que ocorreu por volta de 1100, após a morte de Urbano II (1099), ao passo que o cronista de Erfurt retrocede até 915, depois do governo de Sérgio III (? 914)!



2) A recensão de Martinho Polono é mais complexa do que a anterior.



Refere que João da Inglaterra, nascido em Mogúncia (Alemanha), ocupou a cátedra papal durante dois anos, sete meses e quatro dias. Era uma mulher. Jovem, fora por seu amante levada, em trajes masculinos, para Atenas, onde granjeou grande erudição. Transferiu-se para Roma, onde ensinou o "trivium"30, tendo entre os seus ouvintes e discípulos grandes mestres da época. Já que gozava de boa reputação e elevado saber, foi eleita Papisa (ou pretensamente Papa) por consentimento de todos os eleitores, com o nome de João Ânglico.



Grávida, ela se dirigia certa vez de São Pedro à basílica do Latrão; entre o Coliseu e a igreja de São Clemente, deu à luz, morreu e foi sepultada no mesmo lugar. Isto tudo se terá verificado após o pontificado de Leão IV (? 855). Todavia um interpolador, Otão de Freising, coloca a eleição da Papisa Joana em 705!



A versão de Martinho Polono foi modificada pelo autor de um manuscrito do século XIV (publicado por Doellinger em Die Papstfabeln des Mittelalters, Munique 1863, p. 503). Tal autor põe em foco uma jovem chamada Glância, oriunda não de Mogúncia, mas da Tessália, a qual se terá tornado Papa, não, porém, com nome de Joana, e, sim, com o de Jutta.



Nos séculos XIV e XV a estória gozava de crédito mais ou menos geral: no domo de Sena, por exemplo, em cerca de 1400, foram erguidos os bustos dos Papas, entre os quais o da Papisa Joana. No Concílio de Constança (1414-1418), o herege João Hus citou a Papisa Joana sem sofrer contestação alguma. Humanistas e adversários da lgreja, principalmente após o cisma protestante (século XVI), muito exploraram a narrativa, multiplicando livros e folhetos que propagavam a estória.



Deve-se ainda notar que, com o decorrer do tempo, a lenda da Papisa Joana foi acrescida de outra, não menos repugnante. - Com efeito, forjaram-se documentos segundo os quais os Cardeais da S. lgreja, receando que fosse de novo eleita uma mulher Papisa recorriam a uma cadeira de assento perfurado a fim de se assegurar do sexo do candidato eleito. Tal cadeira era chamada "stercoraria" (palavra que provém de stercus, esterco).



Esta outra narrativa se encontra nos escritos de autores medievais, dos quais alguns protestam contra ela. Tenham-se em vista Godofredo de Courlon, em cerca de 1295; o dominicano Roberto de Uzés, ? 1296; Tiago Angeli de Scarpia, em 1400 (o qual contradiz à insana fabula); Félix Hemmerlin, ? 1460...



A denúncia da falsidade



Apesar de leves dúvidas sobre a veracidade dessas estórias, dúvidas proferidas desde o século XIII, somente a partir de meados do século XVI se reconheceu o caráter lendário das mesmas. O século XVI, com a Renascença, foi justamente o século da crítica aos falsos documentos da história anterior.



O primeiro a denunciar a falsidade da estória de Joana foi João Thurmaier, cognominado "Aventino" (oriundo de Abensberg na Baviera), falecido em 1534, e autor de Annales Boiorum. Esse escritor era publicamente católico, mas ocultamente luterano. A sinceridade, porém, levava-o a reconhecer a fraude da lenda.



Seguiu-se Onófrio Panvínio (? 1568), que escreveu anotações sobre a vida dos Papas publicadas em Veneza em 1557.



A refutação da lenda foi cabalmente empreendida por Florimundo de Rernond, que escreveu o livro Erreur populaire de la papesse Jeanne, editado em Paris (1558), Bordéus (1592, 1595) e Lião (1595). O autor mostrava a impossibilidade de tal "estória" e as contradições das diversas recensões. Notem-se ainda o autor protestante D. Blondel ("Familier esclaircissement de la question, si une femme a esté assise au siége papal de Rome entre Léon IV et Benoit III". Amsterdam 1647) e o erudito Ignaz von Doellinger (Die Papstfabeln des Mittelalters. Stuttgart 1890), o qual não era muito amigo do Papado, pois se separou de Roma por não querer reconhecer a infalibilidade pontifícia definida em 1870 pelo Concílio do Vaticano I.



As razões pelas quais não se admite mais a estória da Papisa Joana, são:



a) as incertezas e vacilações das diversas versões, principalmente ao assinalarem a data do pretenso episódio;



b) o fato de que até meados do século XIII a extraordinária e interessante estória da Papisa Joana (que teria vivido no período dos séculos IX, X, XI) é totalmente ignorada pelos cronistas medievais. Os primeiros que se referem, são o dominicano João de Mailly na sua Chronica universalis Mettensis redigida por volta de 1250, e seu confrade Martinho Polono (? 1279), autor de Chronicon pontificum et imperatorum. Averigüou-se que os relatos da lenda encontrados em documentos mais antigos, do que estes foram inseridos aí depois do século XIII;



c) a série dos Papas, como hoje é conhecida, não admite interrupção entre Leão IV e Bento III (século IX), como tão pouco a comporta entre Pontífices dos séculos X/ XI. - Com efeito, Leão IV morreu aos 17 de julho de 855 e Bento III foi eleito antes do fim de julho de 855. Por conseguinte, entre Leão IV e Bento III é impossível intercalar o pontificado da pretensa Papisa, que teria durado dois anos, sete meses (ou cinco meses ou um mês, segundo os diversos narradores) e quatro dias. A mesma impossibilidade se verifica, caso se queira transferir o "pontificado" de Joana para outra fase dos séculos VII/XI; não há brecha na série dos Papas para intercalar uma Papisa.



Como explicar...?



1. Julga-se que a estória é uma alusão às tristes condições em que se achava o Papado no século X: vários Pontífices caíram então sob a influência de três mulheres prepotentes em Roma: Teodora, esposa de Teofilacto, e suas filhas Teodora e Marócia. Na mesma época houve sete Papas com o nome de João: João IX (898-900), João X (914-929), João XI (931-935), João XII (955-964), João XIII (965-972), João XIV (983-984), João XV (985-996), sendo que a respeito de João XI escreveu um cronista seu contemporâneo: "Foi subjugado em Roma pela prepotência de uma mulher" (Bento de S. André de Sorate, Chronicon em Monumenta Germaniae Historica III 714). Tal notícia por si só podia bastar para fazer crer que realmente uma mulher ocupara a Sé de Pedro. Podia também sugerir o nome de Joana para essa mulher, pois a mulher de que fala o cronista Bento de S. André era tida como familiar de João XI (era a mãe deste Papa); ora "muito naturalmente" uma mulher aparentada do Papa João deveria chamar-se Joana! Compreende-se, pois, que o século X, fase difícil da história do Papado, tenha sido ilustrado (ou caricaturado) de maneira muito eloqüente pela narrativa fictícia de que uma mulher chegou a subir ao trono pontifício.



2. Em particular, a lenda da cadeira estercorária explica-se do seguinte modo:



Uma vez eleito o Papa, os Cardeais e o povo iam à basílica de São João do Latrão. O Pontífice se sentava numa cadeira de mármore colocada sob o pórtico da igreja; os dois Cardeais mais antigos o sustentavam pelos braços e o levantavam, ao canto da antífona "Suscitans a terra inopem et de stercore erigens pauperem. - Levantas da terra o indigente e do esterco ergues o pobre" (Salmo 112,7). Em conseqüência, tal cadeira se chamava "estercorária" (o canto sugeria o adjetivo...) A cadeira não possuía assento perfurado. A cerimônia tinha seu simbolismo claramente enunciado pela antífona: apresentava o Papa como o pobre servidor que Deus se dignava de exaltar ao pontificado.



A seguir, o Pontífice era levado ao batistério do Latrão. Sentava-se sobre uma cátedra de porfírio e recebia as chaves da basílica, sinal de suas faculdades pastorais. Depois, sentado sobre outra cadeira de porfírio, devolvia as chaves. Essas duas cadeiras de porfírio tinham assento perfurado; eram cadeiras antigas, que haviam servido aos banhos dos romanos e que eram utilizadas em tal cerimônia papal não por causa da sua forma, mas por causa do respectivo valor. Ora a lenda confundiu esses diversos elementos, imaginando a cadeira estercorária como cadeira de assento perfurado e associando-se à estória da Papisa Joana.



3. De resto, a lenda foi reformada pela existência de uma estátua de mulher com criança nas mãos, que na Idade Média se achava junto A igreja de São Clemente em Roma. Essa estátua seria, conforme os cronistas medievais, a da Papisa Joana; estaria acompanhada de uma inscrição, da qual quatro variantes nos são referidas pelos historiadores da Idade Média:



"Parce pater patrum papissae prodito partum".



"Parce pater patrum papissae prodere partum".



"Papa pater patrum papissae pandito partum".



"Papa pater patrum peperit papissa papellum".



Ora os arqueólogos admitem, seria a estátua mencionada a que se encontra hoje no Museu Chiaramonti de Roma; seria uma estátua de origem pagã a representar talvez Juno que amamenta Hércules.



As diversas formas da inscrição acima parecem não ser mais do que tentativas medievais para reconstituir uma frase fragmentária assim encontrada ao pé dessa estátua de origem pagã:



P... PATER PATRUM P P P



Sabe-se que Pater Patrum era o título característico dos sacerdotes de Mitra (justamente debaixo da igreja de São Clemente em Roma foi encontrado grandioso santuário de Mitra). Mais ainda: sabe-se que a abreviação P P P é freqüente na epigrafia latina, significando muitas vezes própria pecunia posuit, ou seja, construiu à custa própria. Donde se conclui com verossimilhança que a "estátua da Papisa Joana" não é senão uma efígie em uso no culto de Mitra, custeada e colocada no santuário respectivo pelo sacerdote pagão P... (talvez Papinus) em inícios da era cristã. A inscrição abreviada e mutilada pela injúria dos tempos, prestando-se a interpretações diversas, teria dado lugar às conjeturas dos poetas medievais que corroboravam a lenda da Papisa Joana.

Fonte: http://www.cleofas.com.br/ver_conteudo.aspx?m=doc&cat=88&scat=122&id=1883

Você já se perguntou porque o Vaticano convida ateus e agnósticos para sua pontifícia academia de ciências?

"Miguel Nicolelis é um dos pesquisadores brasileiros de maior prestígio. Pioneiro nos estudos sobre interface cérebro-máquina, suas descobertas aparecem na lista das dez tecnologias que devem mudar o mundo, divulgada em 2001 pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês).







Em 2009, tornou-se o primeiro brasileiro a merecer uma capa da Science.


Na quarta-feira da semana passada, foi nomeado membro da Pontifícia Academia de Ciências, no Vaticano. Em mensagem enviada ao blog de Luís Nassif, 10-01-2011, ele reage às críticas que tem recebido por ter aceito ser membro da Academia Pontifícia.






Eis a mensagem:






Sou leitor assíduo desse blog, então não tinha como me conter e resolvi responder aos absurdos postados nesse tópico que diz respeito a mim.


Primeiro, sou um cientista brasileiro, ateu, pró-legalização do aborto, pró união civil dos homosexuais e pró Dilma. Fui convidado a me tornar membro da mais antiga academia de ciências do mundo, a mesma a que Galileu Galilei foi membro. Aceitei o convite, pois esse foi feito com a garantia que a academia se interessa pela minha ciência e não pela minha opção (ou falta de opção) religiosa.


Espanta-me verificar que mesmo num site progressista ocorra o grau de patrulha ideológica (ou religiosa) que encontrei nos comentários (do Blog) Meu outro colega de Academia é o físico Stephen Hawking, que professa as mesmas opiniões que eu. Agora eu me pergunto, a troco de que eu iria recusar a oportunidade de bater bons papos com um dos maiores físicos da história?


A Academia de Ciências deixa claro nos seus estatutos que nenhum dos seus membros precisa acreditar em Deus ou ser membro da religião católica.


Entao, a título de esclarecimento, gostaria de deixar registrado que toda vez que eu for convidado a participar do mesmo clube frequentado por gente como Galileu e Stephen Hawking, vocês podem estar certos que eu vou aceitar. Mesmo que fosse a Academia de Ciências da Gaviões da Fiel! E para um palmeirense dizer isso não é fácil, não."

Fonte:

http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/20427-voce-ja-se-perguntou-porque-o-vaticano-convida-ateus-e-agnosticos-para-sua-academia-de-ciencia

Esta notícia pode ser preocupante. Segundo Olavo de Carvalho, em seu último programa semanal, True Outspeak, pode haver uma infiltração do maligno na Igreja por cientistas gayzistas e pró aborto, como é o caso do Dr. Nicolelis.
O problema em si não é ser um ateu, isto em todo caso é até bom para mostrar a seriedade da academia do Vaticano, todavia, ser um abortista e um gayzista (e um petista também) pode, em médio prazo, ser um gol contra por parte da academia, pelo fato do Dr. Nicolelis poder, agora, falar em nome da Academia do Vaticano para o Brasil e América Latina, ele pode, sem ter medo, causar graves conseqüências - talvez permanentes no Brasil - a visão que a sociedade (que já é bem deformada pela mídia e outras igrejas, fora os ateus militantes...) tem da Igreja.

Rezo para que o Dr. Nicolelis consiga uma coisa que jamais conseguiu fazer aqui no Brasil, ou nos EUA, DAR OUVIDOS A CIÊNCIA. O Fato de ser gayzista e abortista, sem dúvidas, já o invalida como cientista sério (ou que pelo menos de ouvidos aos fatos científicos sobre estes assuntos). Talvez até, se ele abrir os olhos, ele possa se converter na Pontifícia academia de Ciências do vaticano.



sábado, 8 de janeiro de 2011

Camisa-de-força

Camisa-de-força



Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 4 de janeiro de 2011



As declarações recentes da Igreja Anglicana do Brasil em favor do Projeto de Lei 122/06 fornecem-nos o exemplo completo e acabado da duplicidade de linguagem a que é preciso recorrer quando se defende o indefensável. Embora o estilo bífido seja o mais notório hábito do demônio, seu emprego não merecendo respeito nem tolerância sobretudo quando praticado em nome da religião, isto não implica, da parte de seus usuários, nenhuma intenção consciente de ludibriar o ouvinte ou leitor. Ao contrário: nos dias que correm, aquela ambigüidade sorrateira, perversa, que encobre com as mesmas palavras as ações mais opostas e contraditórias, já se tornou em muitas pessoas um vício automatizado e quase que uma segunda natureza. Isso não as desculpa de maneira alguma: o mal não se faz menos detestável porque uma rotina entorpecente o tornou indiscernível do bem.



Em si, o documento não tem aquele mínimo de consistência que o tornaria merecedor de uma resposta; está abaixo da possibilidade de ser debatido; só pode ser analisado como sintoma de vícios de pensamento que hoje em dia são gerais e endêmicos na sociedade brasileira.



O objetivo nominal com que se apresenta é contestar, com ares de quem passa pito, algumas objeções correntes àquela proposta legislativa, especialmente as que a vêem como instrumento destinado a limitar severamente a liberdade de expressão.



“Crítica comum ao PLC n.º 122/06 é a de que o mesmo proibiria as pessoas de ‘criticarem a homossexualidade’ (sic) e que implicaria numa ‘ditadura’, numa ‘mordaça’ àqueles que ‘não concordam’ com o ‘estilo de vida homossexual’. Contudo, essas colocações se pautam ou em um simplismo acrítico ou em má-fé de seus defensores.”



Contra essa objeção, alega a Igreja Anglicana que naquele projeto de lei “não há criminalização específica da discriminação não-violenta por orientação sexual ou por identidade de gênero”. Assim, estaria resguardado o direito à crítica: “Opiniões respeitosas, embora críticas, à pessoa homossexual não configurarão crime por força do PLC n.º 122/06”.



Se o leitor suspira aliviado diante dessas observações, faria melhor em notar que elas significam o oposto do que parecem dizer. Prossegue o documento: “Criticar a homossexualidade e não a pessoa homossexual concreta implica em (sic) um discurso segregacionista ... que se equipara a discursos de ódio que não pode ser tolerado.” A redação abominável mal esconde o sentido ameaçador daquilo que pretende vender como inofensivo: você pode criticar o homossexual por qualquer outra coisa – por usar uma gravata berrante, por cometer tantos erros de português quanto o porta-voz da Igreja Anglicana ou por soltar gases no elevador – mas nunca por sua conduta homossexual. Pior: não pode falar mal do homossexualismo em si, genericamente, sem qualquer referência a uma pessoa concreta, pois ser contra o homossexualismo é “discurso de ódio”, obviamente punível pelo PLC-122/06. Mais claramente ainda, o documento afirma que todas as modalidades de discriminação serão castigadas, ainda que “sejam tais ações perpetradas por motivação moral, ética, filosófica ou psicológica.” Quer dizer: a motivação moralmente elevada e a alta elaboração intelectual da crítica ao homossexualismo não a tornarão menos criminosa, nem menos punível.



Notem que aí o conceito de discriminação abrange quatro ações possíveis: agredir, constranger, intimidar e vexar. Vexar, prossegue o documento citando o Dicionário Houaiss, é “causar vexame ou humilhação, sendo vexame tudo o que causa vergonha ou afronta”. Ora, qualquer ensinamento que tente mostrar a um cidadão o caráter imoral ou pecaminoso da sua conduta, mesmo que o faça nos termos mais gentis e carinhosos do mundo, não tem como deixar de lhe infundir um sentimento de vergonha. Mais que vergonha, culpa e arrependimento, que não vêm sem humilhação. Em suma: a simples pregação moral que tente induzir um indivíduo a abandonar as práticas homossexuais já está catalogada de antemão como crime e nivelada às ações de “agredir, constranger e intimidar”.



A permissão de “opiniões respeitosas, embora críticas” é com toda a evidência uma armadilha destinada a proibir toda e qualquer opinião crítica, mesmo moralmente digna e fundada em motivos intelectualmente relevantes.



A própria escolha do adjetivo revela a ambigüidade maliciosa do autor do escrito. “Opiniões respeitosas”, diz ele. Respeitosas a quem e a quê? Respeitosas à pessoa humana somente ou respeitosa aos seus hábitos homossexuais também? É evidente que, se alguém considera um hábito respeitável, não tem por que criticá-lo do ponto de vista moral; se o critica, é porque não o considera respeitável de maneira alguma. Dito de outro modo: você pode criticar o homossexual, desde que aceite sua conduta homossexual como respeitável e superior a críticas e desde que se abstenha de dizer até mesmo alguma palavra contra a homossexualidade em geral.



Chamar isso de mordaça é eufemismo. Mordaça impede apenas de falar, não de pensar. O PL-122/06 não é uma mordaça: é uma camisa-de-força mental que impõe a todos os possíveis críticos do homossexualismo uma obrigação psicológicamente impossível, a de criticar sem críticas. Muito mais que restringir a liberdade de expressão, estrangula a liberdade de pensamento. É uma lei propositadamente absurda, feita na base da estimulação contraditória para instilar na população um estado de perplexidade apatetada, temor irracional e obediência canina. Se esse monstrengo jurídico digno da Rainha de Copas nasceu da pura confusão mental de seus autores ou de um propósito maquiavélico de reduzir o público à menoridade mental, é algo que se pode conjeturar. As duas hipóteses não se excluem – nem no projeto em si, nem na sua apologia anglicana.

Coroação se S. Luís.

Coroação se S. Luís.

Sagração de S. Luís IX, na Catedral de Reims.

Sagração de S. Luís IX, na Catedral de Reims.